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Comissão do Senado vota para que os auditores fiscais da Receita Federal sejam proibidos de investigar corrupção

Emenda apresentada por Randolfe Rodrigues abre brecha para que benefício seja concedido em qualquer ocasião. (Foto: Agência Senado)

Os senadores que integram a comissão especial que analisa a MP (Medida Provisória) que criou o desenho do governo Jair Bolsonaro (PSL) aprovaram proposta para que auditores da Receita Federal sejam proibidos de investigar crimes não fiscais, como corrupção.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), incluiu a previsão no relatório apresentado nesta terça-feira. A emenda, que partiu do próprio relator, foi sugerida pelo líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM). Ela não modifica a própria MP, porém, e sim uma lei de 2002 que disciplina a carreira de auditores fiscais.

“A gente precisa dar limites para não haver a exacerbação do exercício de determinados poderes, e tem ocorrido sim a extrapolação na atuação de fiscais da Receita Federal, que fogem da sua competência e das suas atribuições”, disse Bezerra na terça-feira (08). A alteração foi questionada pelo líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que criticou o fato de a alteração não ter relação com a MP que montou o governo Bolsonaro.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) também contestou a medida, argumentando que acabaria com o poder da Receita Federal de combater crimes como lavagem de dinheiro e corrupção. A proposta foi chamada de “jabuti”, termo usado no Congresso para se referir a trechos de projetos que não têm relação com o seu tema.

O texto do relatório prevê que “a competência do Auditor-Fiscal da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil limita-se, em matéria criminal, à investigação dos crimes contra a ordem tributária ou relacionados ao controle aduaneiro”, e que “os indícios de crimes diversos dos referidos no inciso anterior, com os quais o Auditor-Fiscal da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil se depare no exercício de suas funções, não podem ser compartilhados, sem ordem judicial, com órgãos ou autoridades a quem é vedado o acesso direto às informações bancárias e fiscais do sujeito passivo”.

O Major Olímpio chamou o trecho de “emenda Gilmar Mendes”, já que, recentemente, auditores da Receita apontaram, em um documento, indícios de que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), tenha cometido crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. Gilmar Mendes pediu providências ao presidente do STF, ministro Dias Toffoli, e o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, determinou que a Corregedoria do órgão apure em que circunstância a investigação ocorreu.

Em fevereiro, a Receita Federal divulgou nota afirmando que a investigação sobre Gilmar Mendes era preliminar e não resultou em um processo de fiscalização contra o magistrado. Em nota, o Fisco informou ainda que não havia evidências que sustentassem que as movimentações financeiras de Gilmar e de sua mulher, Guiomar Mendes, tinham indícios de lavagem de dinheiro, como constava do documento que vazou.

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