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Como funciona o poder no Irã, país comandado por aiatolás

Apesar de ter um presidente, o aiatolá é o líder supremo do Irã. (Foto: Reprodução)

Os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares do Irã no último sábado (21), juntando-se à guerra ao lado de Israel. Apesar da ofensiva, o presidente norte-americano diz que não busca uma mudança de regime com a ação militar. Já nessa segunda-feira (23), o Irã atacou a base aérea americana de Al Udeid, localizada no Catar.

O regime do Irã é uma república teocrática, que une princípios religiosos aos do governo. Com capital em Teerã, a república do Irã surgiu em 1979, após a monarquia ser derrubada durante a revolução. Depois de Mohammad Reza Pahlavi — o último rei, chamado de xá —, ter sido exilado, Ruhollah Khomeini foi estabelecido como o primeiro líder supremo.

Quem comanda o Irã? Apesar de ter um presidente, o aiatolá é o líder supremo do Irã. O cargo é determinado por clérigos islâmicos, que são encarregados de selecionar, supervisionar e, se necessário, derrubar o líder.

Ocupado atualmente por Ali Khamenei, o aiatolá detém poder direto ou indireto sobre todos os assuntos do Estado – da política externa à política interna. É ele quem nomeia os principais funcionários, incluindo os chefes da mídia estatal e do Judiciário e tem representantes em quase todas as principais organizações.

O artigo 110 da Constituição descreve os deveres e poderes do líder supremo, incluindo a declaração de guerra e de paz, bem como a mobilização das Forças Armadas.

Qual o papel do presidente? O presidente do Irã fica responsável pela gestão cotidiana do governo e pela representação do país na diplomacia internacional. Contudo, o ocupante do cargo não pode se sobrepor ao líder supremo em questões de importância estratégica.

Assim como no Brasil, os presidentes iranianos têm mandatos de 4 anos. A última eleição aconteceu em julho de 2024, tendo como vencedor Masoud Pezeshkian. A votação aconteceu após a morte repentina do então presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero dois meses antes.

Nono presidente da república islâmica, Pezeshkian é conhecido por sua postura moderada.

Ele fez campanha prometendo promover reformas sociais limitadas, retomar as negociações com o Ocidente sobre o programa nuclear do Irã e responder ao descontentamento público provocado pela morte de Jina Amini em 2022. A mulher, que era curda, morreu aos 22 anos sob custódia policial após ser presa por supostamente usar seu lenço de cabeça de forma muito frouxa.

Como funciona o Parlamento? O Parlamento iraniano é conhecido como Majlis, ou ICA. São eles os responsáveis pela elaboração de leis, aprovação do orçamento nacional e pela ratificação de acordos internacionais.

Contudo, as grandes decisões dependem do chamado Conselho dos Guardiões. Ele examina todos os candidatos ao Parlamento e tem o poder de rejeitar legislação que considere inconsistente com a Constituição ou os princípios islâmicos.

Ao todo, há 290 parlamentares eleitos para mandatos de 4 anos por meio de eleições nacionais diretas.

Mohammad Bagher Qalibaf, um conservador linha-dura, é presidente do Parlamento desde 2020 e foi reeleito para o cargo em maio de 2025. Ex-general da IRGC, ex-chefe da polícia nacional e ex-prefeito de Teerã, Qalibaf é considerado uma das figuras mais influentes do establishment político iraniano.

O que é o Conselho dos Guardiães? O Conselho dos Guardiães é um órgão composto por 12 membros, que devem garantir que toda a legislação aprovada pelo Parlamento está de acordo com os princípios islâmicos e com a Constituição.

Também cabe ao Conselho examinar as pessoas eleitas a cargos importantes, como a presidência e o Parlamento.

O grupo é formado da seguinte maneira: 6 clérigos islâmicos nomeados pelo líder supremo; e 6 juristas selecionados pelo Parlamento.

Ahmad Jannati, um clérigo linha-dura e aliado do líder supremo, preside o Conselho dos Guardiães desde 1992. Conhecido por suas opiniões conservadoras, Jannati desempenha um papel central na avaliação de candidatos e na formulação de legislação em consonância com os princípios da República Islâmica.

Quem media a relação entre o Parlamento e o Conselho dos Guardiães? As disputas entre o Parlamento e o Conselho dos Guardiães é mediada pelo Conselho de Discernimento. Eles interferem, por exemplo, quando as leis propostas entram em conflito com a lei islâmica ou a Constituição.

Oficialmente, se trata de um órgão que realiza consultas, mas ele frequentemente funciona como uma extensão da autoridade do líder supremo, influenciando a política nacional e garantindo a continuidade do sistema político durante conflitos internos ou crises.

De mesmo modo, os membros são diretamente pelo aiatolá.

Como funciona a Guarda Revolucionária do Irã? A Guarda Revolucionária do Irã é uma força militar paralela. Ela tem a missão de defender o regime, tanto internamente como no exterior.

Sua milícia Basij monitora a dissidência interna, enquanto a força de elite Quds supervisiona as operações em toda a região.

O braço de inteligência da Guarda rivaliza com os serviços de segurança oficiais e desempenha um papel fundamental no combate às ameaças internas e externas. Sob o comando do líder supremo aiatolá Ali Khamenei, os papéis políticos e de segurança da IRGC se expandiram significativamente.

Analistas estimam que o grupo controla de 20% a 40% da economia iraniana, principalmente por meio de seu braço de engenharia, Khatam al-Anbiya, e de interesses abrangentes em setores como energia, agricultura e finanças – oferecendo empregos e influência política.

A Guarda Revolucionária surgiu em 1979, após a Revolução Islâmica do Irã. A princípio, tratava-se de uma milícia voluntária encarregada de proteger o regime recém-estabelecido.

Após o ataque aéreo israelense de 13 de junho que matou o comandante da IRGC Hossein Salami e vários outros generais de alto escalão, Khamenei nomeou o brigadeiro-general Mohammad Pakpour, um veterano da Guerra Irã-Iraque e chefe de longa data das forças terrestres, como novo líder da organização.

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