Se Wagner Moura for escolhido o melhor ator desta edição do Festival de Cannes — e ele é um dos favoritos até agora —, é bom se preparar para vê-lo na plateia recebendo o prêmio pessoalmente. Confiante, a equipe do longa “O Agente Secreto”, protagonizado pelo ator baiano, decidiu permanecer na Riviera Francesa até o próximo sábado, data do anúncio oficial dos vencedores.
Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o filme é ambientado no Recife dos anos 1970 e estreou no festival no último domingo. Desde a primeira exibição, a produção brasileira vem sendo apontada como uma das favoritas da crítica internacional, gerando repercussão positiva entre jornalistas, distribuidores e cinéfilos presentes no evento.
A recepção calorosa do público e o entusiasmo da imprensa especializada consolidaram “O Agente Secreto” como um dos títulos mais comentados desta edição. Alguns veículos internacionais destacaram a atuação de Wagner Moura como uma das mais expressivas do festival, reforçando as chances do ator brasileiro na disputa pela Palma de Ouro de interpretação.
Este não seria um feito inédito para o Brasil. Em 1986, Fernanda Torres conquistou o prêmio de melhor atriz por sua atuação no filme “Eu sei que vou te amar”, de Arnaldo Jabor. Na ocasião, a atriz não pôde comparecer à cerimônia por estar envolvida nas gravações da novela “Selva de pedra”, da TV Globo.
Outro exemplo é o de Sandra Corveloni, que também não esteve em Cannes quando recebeu o prêmio de melhor atriz em 2008, por seu papel no longa “Linha de passe”, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas. Sua ausência se deu por motivos de saúde, mas sua vitória foi comemorada como um marco para o cinema nacional.
Com esse histórico, a presença de Wagner Moura na plateia pode representar uma inversão simbólica: pela primeira vez em décadas, um ator brasileiro com chances reais de vitória estará presente para, quem sabe, subir ao palco e celebrar esse reconhecimento em solo francês.
Além da performance do ator, “O Agente Secreto” tem sido elogiado por seu roteiro político, fotografia expressiva e pela maneira como recria o clima opressor do regime militar brasileiro. A ambientação no Recife dos anos 1970 trouxe à tona debates sobre repressão, resistência e memória histórica, temas que ecoam com força na audiência europeia.
Kleber Mendonça Filho, que já havia passado por Cannes com “Aquarius” e “Bacurau”, volta ao festival com mais maturidade e contundência. A crítica aponta que este pode ser seu filme mais ambicioso até agora, tanto estética quanto narrativamente. A direção segura e os detalhes de produção reforçam sua posição como um dos principais nomes do cinema latino-americano atual.
A expectativa em torno do filme também movimenta o mercado. Distribuidores de diversos países já demonstraram interesse pela obra, o que pode garantir um circuito internacional significativo para o longa. Essa repercussão fortalece não apenas a carreira dos envolvidos, mas também a visibilidade do cinema brasileiro em festivais de prestígio.
Agora, resta aguardar o anúncio oficial. Com favoritismo em alta e presença confirmada no evento, Wagner Moura e a equipe de “O Agente Secreto” já conquistaram um lugar de destaque nesta edição do Festival de Cannes. A possível consagração no próximo sábado pode marcar um novo capítulo na história do Brasil no cinema mundial.