Há escolas que moldam currículo; o CPOR molda caráter. Quem cruza seus portões aprende que a vida em pelotão é bússola que aponta sempre para o outro: disciplina que não humilha, respeito que não negocia, camaradagem que sustenta nos degraus difíceis. Ali, onde o apito convoca e a bandeira orienta, a formação do oficial da reserva planta no peito um juramento que transborda os muros e acompanha o cidadão por toda a vida.
Vida e legado de um visionário
Luís de Araújo Correia Lima nasceu em 4 de novembro de 1891, em Porto Alegre. Filho do General Gonçalo, formou-se na Escola Militar do Realengo, na Artilharia, e cedo se destacou pelos estudos e pela visão estratégica. Após a Primeira Guerra, mergulhou na doutrina e na mobilização europeias e percebeu o óbvio que poucos viam: faltavam tenentes e era urgente criar uma reserva mobilizável de oficiais. Propôs, então, os Órgãos de Formação de Oficiais da Reserva (OFOR), embrião dos CPOR/NPOR. Enfrentou resistências, como todo pioneiro. Tombou na Revolução de 1930, então Major e comandante legalista, sendo promovido por bravura a Tenente-Coronel. Mas a ideia que semeou seguiu viva – e frutificou.
A Casa de Correia Lima e a reserva que respira Brasil O projeto virou estrutura: o primeiro CPOR no Rio de Janeiro (1927), onde Correia Lima foi o inaugural comandante – a Casa de Correia Lima, em seguida criado o CPOR de Porto Alegre (1928). A experiência multiplicou-se: São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Belém, no compasso da pré-mobilização para a Segunda Guerra. Nasceu, assim, um viveiro de líderes para tempos de paz e de guerra.
Quando o Brasil precisou aumentar seu efetivo na Segunda Guerra, o quadro de carreira não bastou. Foi a hora dos R2, e eles foram – muitos para a linha de frente, comandando pelotões e companhias. A Força Expedicionária Brasileira viu centenas de Oficiais R2 honrarem a farda; entre símbolos de coragem, o Tenente Apollo Rezk. Em paz, esses mesmos oficiais devolvem à sociedade o que aprenderam: tornam-se profissionais éticos, professores inspiradores, empreendedores resilientes. O R2 oxigena a Força e, sem farda, leva para a vida civil moral elevada, disciplina inabalável e conduta exemplar.
Medalhas, troféus e memórias do CPOR de Porto Alegre Em 1942, o Decreto nº 8.887 instituiu a distinção ao 1º colocado dos cursos de formação da reserva: a Medalha Correia Lima. Na minha turma – Monte Castelo/1990, CPOR/PA – o condecorado foi o aluno Lucas Weihmann,
Artilharia: atleta de excelência (recordista em medalhas), militar de prática constante, camarada pronto para qualquer missão, reconhecido por instrutores e colegas.
Na Infantaria, minha arma, vencemos o cobiçado Troféu Correia Lima, uma olimpíada que unia esporte (futebol, basquete, vôlei, atletismo) e atividades militares (rústica, Pista de Pentatlo Militar, cabo de guerra). Tínhamos um “mascote” inesquecível, o Simiex Admilicom – criação bem-humorada do aluno Arenda, de boina azul em tributo ao Batalhão do Suez — que galvanizava a “Infa” numa união imbatível. O auge veio na cerimônia final: de mãos dadas, todos os cursos do CPOR provaram que a rivalidade morre com o apito; o que fica é espírito de corpo.
Reconhecimento e gratidão
O 4 de novembro, natalício de Correia Lima, tornou-se Dia do Oficial da Reserva (R2) pela Portaria nº 429, de 18/7/2006. Não é apenas um marco no calendário: é um convite anual à memória. Recordar Correia Lima é agradecer a criação dos Centros e Núcleos de Preparação de Oficiais da Reserva, instituições que aproximaram Exército e sociedade, formando líderes de pronto emprego e cidadãos de alto padrão ético.
Se o Exército é o guardião atento, o R2 é a ponte viva com a nação. A visão de Correia Lima permanece atual: preparar oficiais temporários que, quando chamados, saibam comandar; e, quando desuniformados, continuem servindo.
Essa é a grandeza de sua obra – uma semente de 1927 que virou floresta de caráter.
Enaltecer o Patrono é celebrar cada instrutor que acredita, cada turma que se supera, cada medalha que reconhece esforço, cada troféu que premia união. É dizer, com respeito e gratidão: muito obrigado, Correia Lima, por imaginar o que o Brasil precisava antes que o Brasil soubesse pedir. A sua ideia virou legado; o seu legado, serviço; e o serviço, cidadania.
(Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues, advogado e escritor – castilhosadv@gmail.com – @castilhosadv)
