O balanço dos Correios referente ao terceiro trimestre de 2025 mostrou que o prejuízo acumulado desde o início do ano já chega a R$ 6,05 bilhões, quase o triplo do mesmo período de 2024. Os processos trabalhistas estão entre os principais motivos de preocupação. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) colocam a empresa como a maior litigante trabalhista do País. Considerando todas as instâncias judiciais, foram registrados 56.481 novos casos nos últimos 12 meses. Isso significa 154 ações por dia ou 6 por hora.
O texto do balanço do terceiro trimestre destaca que há atenção específica para a “análise das estimativas dos processos relacionados à cumulatividade do AADC (Adicional de Atividade de Distribuição e/ou Coleta Externa) com o AP (Adicional de Periculosidade), considerando a existência de decisões ainda pendentes de trânsito em julgado (definitivas), incertezas quanto à aplicação retroativa dos efeitos e outras variáveis jurídicas em análise”.
Pelo terceiro relatório trimestral seguido, os Correios escreveram que, “em decorrência dos apontamentos realizados pela auditoria independente e das avaliações dos órgãos de controle, está em andamento um processo de revisão das estimativas e riscos nos processos judiciais pela assessoria jurídica”. O documento é assinado pela Consult Auditores, empresa sediada em Curitiba e com filial em Cascavel (PR).
A questão é que, se ao fim dessa revisão for confirmado que os riscos foram subestimados, haverá necessidade de provisões financeiras maiores para fazer frente a eventuais derrotas na Justiça, e isso significará também um aumento do prejuízo.
Os Correios registraram no balanço até setembro R$ 5 bilhões em provisões, ante R$ 2,72 bilhões no quarto trimestre de 2024. Neste momento, a estatal negocia com um consórcio de bancos empréstimos de R$ 20 bilhões, que teriam garantia da União. Mas o Tesouro Nacional está condicionando esse aval a taxas de juros menores do que as propostas pelos bancos.
O plano de reestruturação apresentado pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, inclui programa de demissão voluntária que pretende envolver pelo menos 10 mil empregados, a venda de imóveis, renegociação de contratos e busca por novas formas de receita.
Para o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP) Márcio Holland, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, um dos problemas do plano é que não teria tamanho suficiente para resolver o rombo da empresa, e um plano de demissão vai aumentar os custos no curto prazo.
A iniciativa também envolve a busca de um empréstimo de R$ 20 bilhões para socorrer a empresa, feito por vários bancos e com garantia do Tesouro. No entanto, o órgão já informou aos Correios que não dará aval ao aporte caso as taxas de juros estejam acima de 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
Questionado sobre a possibilidade de aporte direto da União, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, se houver aporte, ele dependerá do plano de reestruturação. Com informações de O Estado de S. Paulo.
