Em um estado que ainda contabiliza prejuízos de enchentes históricas e enfrenta a lenta recuperação de pequenos negócios, a parceria entre Federasul e Estímulo começa a se consolidar como um laboratório de um novo modelo de crédito no Brasil: rápido, sem garantias e com juros abaixo do mercado.
Os números iniciais impressionam: R$ 4 milhões já liberados para micro e pequenas empresas, R$ 16 milhões em pedidos pré-aprovados e recursos ainda disponíveis para empreendedores de todo o Rio Grande do Sul. Mas o dado mais revelador é o perfil dos beneficiários: 93% estão em regiões de baixa renda, 22% acessaram crédito pela primeira vez e 25% são mulheres empreendedoras.
Um teste de escala para o microcrédito produtivo
O modelo adotado pelo Fundo Retomada RS — que dispensa garantias e opera 100% digital — desafia a lógica tradicional do sistema financeiro, historicamente avesso a emprestar para quem não tem colateral. Ao reduzir a burocracia e encurtar o prazo de liberação para até cinco dias úteis, a parceria cria um precedente para políticas públicas e privadas de inclusão financeira.
Para a Federasul, a operação é também um movimento político: ao intermediar o acesso ao crédito, a entidade se posiciona como ponte entre o setor produtivo e soluções inovadoras de financiamento, reforçando seu papel de articuladora econômica no pós-crise.
Histórias que viram argumento
Casos como o de Alda Oliveira, que comanda um hotel e restaurante familiar em Pântano Grande, ajudam a traduzir o impacto em termos humanos. Com R$ 14,5 mil obtidos pela linha, Alda vai requalificar a fachada, padronizar ambientes e ampliar apartamentos. O objetivo é aumentar a ocupação e preservar empregos. “Ser vistos por vocês nos deu força”, disse.
Histórias assim funcionam como vitrine para mostrar que o crédito não é apenas capital de giro: é também ferramenta de preservação de legados e de estímulo à economia local.
O contexto macro: crédito como política de desenvolvimento
O Estímulo, criado na pandemia, já destinou R$ 360 milhões a 5,5 mil pequenos negócios no país, com 92% dos recursos indo para regiões de baixa renda. No RS, a parceria com a Federasul surge num momento em que o debate sobre acesso a crédito para MPEs ganha força, especialmente diante da necessidade de reconstrução de cadeias produtivas afetadas por eventos climáticos extremos.
A experiência gaúcha pode servir de modelo para outros estados: combina capilaridade institucional (via Federasul) com um produto financeiro adaptado à realidade de empreendedores que, muitas vezes, estão fora do radar bancário.
Desafios e próximos passos
O desafio agora é escalar sem perder a agilidade e a taxa de inadimplência sob controle. Também será preciso medir o impacto de longo prazo: quantos negócios crescem de fato, quantos empregos são preservados e qual o efeito sobre a arrecadação municipal e estadual.
Se conseguir manter o ritmo e comprovar resultados, a parceria Federasul + Estímulo pode se tornar referência nacional em microcrédito produtivo inclusivo, influenciando tanto políticas públicas quanto estratégias do setor privado.