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Crise do metanol: Em São Paulo, polícia acha fábrica que adulterava bebidas; posto abastecia quadrilha

Concentração de metanol em produtos chegava a 45%. (Foto: Divulgação/SSP-SP)

A Polícia Civil de São Paulo localizou, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, uma fábrica clandestina que distribuía bebidas adulteradas a outros estabelecimentos comerciais, que estão ligados a duas mortes por intoxicação com metanol no Brasil. A investigação aponta que a quadrilha comprava etanol misturado com metanol em postos de combustíveis.

O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, porém, voltou a descartar a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC). “Até aqui não tem nenhum indício. O que aconteceu, que nós estamos concluindo, é que criminosos foram prejudicados por uma organização criminosa.”

Segundo o secretário, ninguém que foi preso até o momento tem ligação com a facção. “Não tem nenhum indício até aqui de que eles estejam, de fato, juntos nesse processo, nessa cadeia ilícita. Nenhum criminoso preso ou investigado é faccionado. E eles não têm a mesma centralização de advogados, isso que é característico da própria organização criminosa.” A Polícia Federal também investiga se o metanol usado para adulterar bebidas tem origem em caminhões e tanques abandonados pelo crime organizado após operações das autoridades.

A ação realizada por meio da Delegacia de Investigações sobre Crimes Contra o Meio Ambiente e do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania cumpriu mandados de busca e apreensão em estabelecimentos ligados à venda de bebidas alcoólicas contaminadas com a substância. Os agentes chegaram até a fábrica após investigarem duas mortes.

Uma delas é de Ricardo Lopes, de 54 anos, que passou mal em 12 de setembro e morreu quatro dias depois. “O bar onde ele consumiu a bebida foi vistoriado e as equipes apreenderam nove garrafas”, disse a Secretaria da Segurança Pública (SSP). A outra vítima é Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos. Ambos consumiram bebida alcoólica no Bar Torres, na Mooca, zona leste de São Paulo, já interditado pela Vigilância Sanitária.

Oito produtos

Ainda de acordo com a pasta, peritos detectaram a presença de metanol em oito desses produtos, com porcentuais que variavam de 14,6% a 45,1%. Não existe dose mínima de consumo da substância, que pode levar à cegueira e à morte. O proprietário do bar admitiu em depoimento que comprou as garrafas de uma distribuidora ilegal, que fabricava bebidas usando etanol de postos de combustível misturado com metanol, um composto altamente tóxico e proibido para consumo humano, segundo a polícia.

A polícia desconfia que o falsificador de bebidas foi adquirir etanol e acabou comprando metanol. “O crime organizado, lucrando exponencialmente, tanto com a lavagem de dinheiro, usando CNPJ dos postos, e lucrando com a adulteração do etanol com o metanol. Na verdade essa organização criminosa prejudicou esses criminosos que fazem a adulteração da bebida”, disse Derrite. “Não quero absolver o criminoso ou formar uma tese de defesa, mas pode ser que eles não soubessem dessa concentração tão grande de metanol dentro do etanol adquirido para adulteração.”

Além de São Bernardo do Campo, endereços em São Caetano do Sul e na capital paulista foram vistoriados. “Ao todo, oito suspeitos foram encaminhados à delegacia para prestar esclarecimentos”, segundo a SSP. Na operação, a polícia apreendeu garrafas, bebidas, celulares e outros itens para análise. As investigações continuam para identificar os envolvidos e a procedência dos produtos. O secretário afirmou, no entanto, que ainda não há evidências da capilaridade que levou à distribuição da bebida adulterada em vários pontos do Estado.

Balanço

Até agora, a Vigilância Sanitária Estadual interditou 13 bares, adegas e distribuidoras entre os 26 estabelecimentos fiscalizados. Em entrevista à Rádio Eldorado, o diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo (Abrasel-SP), Gabriel Pinheiro, disse que 76% dos bares conseguiram manter o faturamento no primeiro fim de semana após a divulgação dos primeiros casos, enquanto 24% registraram queda. Segundo ele, 15 mil associados passaram por treinamentos para identificar bebidas adulteradas. Entre as medidas adotadas estão a exibição da nota fiscal do fornecedor e até funcionários que experimentam bebidas diante do consumidor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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