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Dados do Tribunal Superior Eleitoral contabilizam quase 2 mil e 500 candidatos vindos do mundo dos negócios neste ano

Na base de dados do TSE, havia 309 empresários candidatos em 1998, cerca de 2% do total. Em 2018, são 2.491 até agora, mais de 10% do total. (Foto: Divulgação/TSE)

Dos anos Vargas à redemocratização, o empresariado sempre teve participação em momentos históricos da política brasileira. Tudo indica que o nível de engajamento recente deve se somar a essa lista, mas também romper com ela por uma novidade: o crescente protagonismo.

Se anteriormente empresários se articularam para influenciar Executivo e Legislativo, hoje cada vez mais querem ocupar esses espaços. Segundo levantamento feito pela Folha de S.Paulo na base de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), havia 309 empresários candidatos em 1998, cerca de 2% do total. Em 2006, foram 1.468, quase 8% do total.

Na disputa em curso, até agora, são 2.491 — mais de 10% do total. O número é parcial, pois a entrega de informações ao TSE só se encerra nesta semana, mas já é um recorde. Exemplos notáveis dessa estratégia são as candidaturas de João Amoêdo (Novo), do setor financeiro, Paulo Skaf (MDB), que presidia a Fiesp, entidade que representa a indústria paulista, e João Doria (PSDB), que, ao concorrer à prefeitura paulistana em 2016, virou referência no discurso de que o público precisa de um gestor.

Embora não sejam os primeiros empresários na política, alicerçam uma plataforma que coloca como diferencial o fato de serem empresários. É sintomático que o tema do Fórum da Liberdade, organizado há 30 anos pelo IEE (Instituto de Estudos Empresariais), tenha sido em 2018 “A Voz da Mudança” — e que a edição tenha obtido número recorde de participantes.

“Há uma descrença por parte do empresário em acreditar que o caminho exercido até então, de apoiar campanhas ou partidos, poderia funcionar como agente de mudança”, afirma Júlio Bratz Lamb, presidente do IEE.

As crises econômica e política nas quais o Brasil mergulhou influenciaram diretamente esse ceticismo, avalia ele, motivando empresários a levar o lema “faça você mesmo” para a política.

A abordagem mais pró-ativa dos empresários na política ocorre também no momento em que doações de empresas a campanhas foram proibidas. Sai na frente, assim, quem já tem patrimônio pessoal — Amoêdo, por exemplo, declarou R$ 425 milhões.

Além de candidaturas, os empresários também estão se articulando em outras frentes políticas, caso do Movimento Brasil 200, encabeçado pelo presidente da Riachuelo, Flávio Rocha — que chegou a se lançar pré-candidato à Presidência, mas desistiu. O objetivo desses projetos, segundo seus idealizadores, é capacitar novos quadros para a política.

“Não existe vácuo de poder. Ele é sempre ocupado por alguém. No momento em que alguns nomes são retirados do cenário eleitoral, como o ex-presidente Lula e o [senador] Aécio Neves, um novo espaço é aberto para novas ideias e novos nomes”, afirma Lamb.

Horácio Lafer Piva, empresário do Grupo Klabin e ex-presidente da Fiesp, tem uma visão mais cautelosa. “Não estou tão certo [de que os empresários estão mais ativos]. Vejo que a sociedade está mais atenta, mas ainda falta ação.”

Estudos sobre a atuação política do empresariado atentaram para a relação ora de parceria, ora de conflito entre o grupo e o Estado. Na era Vargas, por exemplo, o empresariado integrava e apoiava o nacional-desenvolvimentismo.

A parceria se mantém nos anos 1950 com o presidente Juscelino Kubitschek, é rompida na crise institucional às vésperas do golpe de 1964, reatada no desenvolvimentismo militar na década de 1970 e rompida novamente na transição democrática dos anos de 1980.

Essa oscilação levou muitos pesquisadores a concluir que não há um projeto nacional por parte dos empresários. Haveria, sim, um pragmatismo “caracterizado por sucessivas adaptações a posições de maior ou menor alinhamento com um papel mais ativo do Estado”, segundo análise da cientista política Eli Diniz, professora-titular aposentada do IE/UFRJ (Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), publicada em 2010.

Apesar das iniciativas recentes, essa característica permanece, avalia o cientista político Renato Boschi, professor do Iesp-Uerj (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro): “Orientação curto-prazista do empresariado sempre foi uma característica. E ainda falta precisamente um projeto de nação”, diz.

 

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