Poucos realizadores brasileiros se equiparam a Daniel Filho. Aos 77 anos, o carioca ostenta um currículo invejável como ator, diretor, produtor e roteirista. Mais de 40 filmes levam sua assinatura de alguma forma, seja na frente ou atrás das câmeras. Na segunda noite de programação do Festival, a trajetória do carioca foi celebrada pelo evento, que lhe homenageou com o Troféu Cidade de Gramado.
Antes de comparecer ao Palácio dos Festivais para receber a honraria das mãos do prefeito Nestor Tissot, Daniel esteve na Sociedade Recreio Gramadense conversando com público e imprensa. No encontro, falou de momentos especiais da carreira, mas fez questão de ressaltar que sua grande paixão é a interpretação. “Não sei se as pessoas não me convidam tanto quanto eu gostaria porque sou mesmo mau ator ou porque acham que não vou aceitar”, brincou o homenageado, “mas o que gosto mesmo de fazer – e sempre sonhei terminar minha vida fazendo – é de atuar”.
Adepto do “take one”, que coloca na tela o primeiro take gravado pelo diretor sem repetições para alcançar a perfeição, Daniel Filho ainda esbanjou humor ao falar da homenagem: “nós envelhecemos e começamos a receber homenagens, mas, brincadeiras à parte, você se sente lembrado, respeitado e com a sensação de que contribuiu para algo que gosta e ama muito – no meu caso, o cinema”.
Cinéfilo apaixonado, o homenageado tem entre seus ídolos cineastas como Michael Haneke, Asghar Farhadi, Wes Anderson e Paul Thomas Anderson. Ele revelou também qual a obra que mais lhe toca no cinema. “‘Cantando na Chuva’ é o meu filme favorito. Funciona como um rivotril, um lexotan, de repente me sinto bem quando o assisto. É o filme mais alegre já feito. E confesso que, apesar de já ter visto milhares de vezes, sempre acabo em prantos”, conta.
Ao subir no palco do Palácio dos Festivais para receber o troféu Cidade de Gramado, Daniel Filho agradeceu ao clipe que destacou momentos de sua carreira e agradeceu àqueles que são a razão de tudo o que sabe sobre cinema: os colegas. “Não preparei nada porque sou uma pessoa que se deixa levar pela emoção. E o que penso agora é que devo agradecer muito aos meus colegas. Nesse momento, lembro de todos os que passaram pelos meus 62 anos de profissão. Nós aprendemos com os colegas, eles que são os grandes professores”, apontou Daniel.
Assim como em praticamente todas as entrevistas que concedeu durante o dia em Gramado, o homenageado reconheceu a importância da homenagem e principalmente o fato de ela vir de um evento como o da serra gaúcha. “É difícil durar muito nessa profissão e nisso incluo o Festival de Cinema de Gramado. Não lembro de nada do gênero que tenha durado tanto tempo. É nos 43 anos desse evento que está a minha emoção. Ter meu nome nessa galeria de colegas fantásticos que já foram homenageados aqui é uma honra”, comentou.
O troféu Cidade de Gramado foi a primeira distinção entregue pelo 43º Festival de Cinema de Gramado. A próxima homenagem acontece na terça-feira (11), com o troféu Oscarito para Marília Pêra.