Ao anunciar que jamais entraria em batalha judicial com o Barcelona, Lionel Messi começa a partir do fim deste mês uma contagem regressiva pelos gramados europeus muito parecida com a vivida por outro astro: Michael Jordan, que em 1997 iniciou a temporada da NBA já sabendo que seria o desfecho de uma longa e vitoriosa relação com o Chicago Bulls.
Embora apresente sutis diferenças, o fim da relação entre os astros e os times tem em comum o descontentamento com a política interna: se a gestão de Josep Maria Bartomeu fez o argentino amadurecer uma ideia de saída há alguns anos impensável, a aposentadoria de Jordan teve como pivô a briga entre um gerente-geral (Jerry Krause) e o técnico Phil Jackson, responsável por conduzir Jordan e os Bulls, uma franquia insignificante até meados de 1980, a seis troféus em oito anos, entre 1991 e 1998. Sem seu zen treinador, Jordan não continuaria em Chicago e ambos transformaram a jornada derradeira numa “última dança” — termo criado por Jackson para motivar o grupo e que batizou série recente da Netflix.
Ao fim daquele ano, a saída de ambos foi acompanhada de uma debandada de campeões — entre eles Scottie Pippen, Dennis Rodman, Steve Kerr —, o que pode se repetir em Barcelona, uma vez que até Piqué já se colocou à disposição para sair, fechando um ciclo vitorioso de atletas formados em La Masia.
O certo é que, pelos próximos meses, a grande expectativa será pelo último ato de Lionel Messi com a camisa do Barcelona. Em 14 de junho de 1998, no jogo 6 da decisão da NBA, Michael Jordan, aos 35 anos, deixou Bryon Russell no chão e fez a cesta do sexto título do Bulls. Caso o Barça não vá à final da Liga dos Campeões, há possibilidade de Messi encerrar sua história no clube em 16 de maio, contra o modesto Eibar, diante de 7 mil torcedores bascos, na última rodada do Espanhol. Até lá, cabe ao argentino ditar o ritmo e o compasso de sua própria milonga.