Ícone do site Jornal O Sul

Declaração de Bolsonaro faz o Egito cancelar uma viagem da comitiva brasileira

Visita de Aloysio Nunes Ferreira foi cancelada em cima da hora. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Arquivo Agência Brasil)

O governo egípcio cancelou uma visita que o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país árabe. Não é comum no protocolo da diplomacia desmarcar viagens em cima da hora. O gesto, segundo diplomatas brasileiros, foi uma retaliação às declarações recentes do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Nesta segunda-feira (5), o governo brasileiro foi informado pelo Egito que a viagem teria que ser cancelada por mudança na agenda de autoridades do país. O chanceler brasileiro desembarcaria na quarta-feira (7) e cumpriria uma agenda de compromissos entre os dias 8 e 11 de novembro.

Bolsonaro disse que pretende reconhecer Jerusalém como capital de Israel e que irá transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade, o que tem desagradado a comunidade árabe.

Segundo relatos de diplomatas, a Liga dos Países Árabes enviou inclusive uma nota à embaixada brasileira no Cairo condenando as declarações do presidente eleito. Para a visita de Aloysio, um grupo de empresários brasileiros já tinha chegado ao Egito.

Juntos, os países árabes são o segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Em 2017, as exportações somaram US$ 13,5 bilhões e o superávit para o Brasil foi de US$ 7,17 bilhões.

A declaração de Bolsonaro irritou o governo federal. A avaliação de assessores presidenciais é de que a mudança da embaixada pode prejudicar a economia brasileira e acaba envolvendo o país em uma disputa regional.

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, defende que seja respeitado o posicionamento do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960), que apoiou a partição da Palestina entre judeus e árabes.

“Essa é uma opinião pessoal: espero que o presidente eleito reflita sobre esse assunto antes de tomar uma decisão. Não vejo nada que pode vir de positivo nisso”, disse ao jornal Folha de S. Paulo.

Para o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, a mudança da embaixada pode abrir as portas para países concorrentes do Brasil no setor de proteína animal, como Turquia, Austrália e Argentina. Para Hannun, a questão da embaixada é algo forte e sensível.

“Já tivemos ruídos com a [Operação] Carne Fraca e com a paralisação dos caminhoneiros, mas conseguimos superar. Temos a fidelidade dos países árabes”, afirma.

Perda de investimentos

A mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém pode “riscar” as relações comerciais entre o Brasil e os países árabes, de acordo com Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Em entrevista a jornal israelense, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que “Israel é um Estado soberano. Vocês decidem que é sua capital e nós vamos segui-los”.

O mal-estar gerado pelo alinhamento do governo Bolsonaro à decisão de Israel de mudar a capital de Tel Aviv para Jerusalém, segundo o presidente da câmara de comércio, pode espantar os planos árabes para o Brasil. Além do risco de perda nas vendas, Hannun afirma que o País pode deixar de receber investimentos em infraestrutura dos países árabes.

Ele diz que pretende apresentar um estudo ao novo governo com os projetos de investimento da Liga Árabe no Brasil.

“Cerca de 40% dos fundos soberanos estão nesses países e eles já demonstraram interesse em investir em infraestrutura no País, como estradas, ferrovias e elétricas. São planos futuros que podem ser cortados”, diz.

O setor de infraestrutura já é um dos pontos prioritários do novo governo.

Sair da versão mobile