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A declaração do ministro da saúde sobre as milícias e o tráfico irrita os policiais federais

Assim que o professor começou a falar, o filho do ex-ministro saiu da aula online. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A declaração de Mandetta de que dialoga com o tráfico e com a milícia sobre o enfrentamento do coronavírus pegou mal na área de segurança pública. Para policiais, o ministro cometeu um erro histórico ao reconhecer, como agente do Estado, a existência de poderes paralelos.

Em mensagens trocadas em um grupo de WhatsApp, policiais federais disseram que a atitude do ministro não tinha precedentes na história do Brasil. O ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann concorda com a crítica. “Entendo as preocupações humanitárias, mas isso é inaceitável. Significa reconhecer o controle do crime organizado sobre a vida das pessoas”, afirma.

No relatório diário da ONU, o episódio foi mencionado, registrando a declaração de que o ministro vai dialogar com traficantes de drogas e milícias em favelas para lutar contra a doença.

Hospital em Manaus

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o governo federal vai construir um hospital de campanha em Manaus, uma das cidades mais afetadas pelo coronavírus no país.

Mandetta deu a declaração durante visita às obras de um hospital de campanha em Águas Lindas, cidade goiana no entorno de Brasília. Segundo o ministro, a unidade de Águas Lindas servirá de modelo para os outros hospitais a serem erguidos em todo o país.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, também compareceu à obra. Na saída, caminhou por uma rua próxima, gerando aglomeração de moradores. É a terceira vez, em três dias, que Bolsonaro se envolve em multidões desse tipo, contrariando as orientações de distanciamento social feitas por autoridades de saúde em todo o mundo.

Durante a caminhada, o presidente tirou a máscara de proteção (veja vídeo acima) e segurou o tecido com a mão, infringindo novamente o protocolo de segurança. Uma das apoiadoras chegou a beijar a mão de Bolsonaro, que não tinha sido higienizada naquele momento.

Na quinta-feira (9), o presidente foi a uma padaria em Brasília e na sexta (10), ele foi a uma farmácia e a um prédio residencial. Nas duas oportunidades, e também após a visita ao hospital neste sábado, ele cumprimentou os apoiadores que se aproximaram.

Questionado sobre o a aglomeração, o ministro Mandetta disse que não era “juiz” e, por isso, não julgaria a atitude do presidente. Mandetta reforçou que as pessoas devem manter o isolamento social e ficar em casa. O ministro pediu “calma, disciplina, foco e ciência” para o país atravessar o momento de pandemia.

Na visita, Mandetta informou que a ordem de construção de um hospital de campanha em Manaus deve ser emitida neste domingo. O ministro afirmou que a capital amazônica está próxima do “colapso” – termo usado quando a rede de saúde não consegue atender à demanda de pacientes.

“Amanhã já vou dar ordem para fazer o primeiro em Manaus, cidade que está entrando em colapso. Vamos ter que fazer um lá, temos comunidades indígenas extensas. Então este daqui [de Águas Lindas] é o piloto, o primeiro dos federais”, disse o ministro.

Além de Mandetta e Bolsonaro, compareceram à obra os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura). Também estava presente o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

De acordo com o ministro da Saúde, hospitais de campanha servirão para não deixar a população sem assistência neste período de pandemia de coronavírus, principalmente em locais com grande concentração populacional e infraestrutura insuficiente para lidar com o momento de crise.

“Aqui tem obra paralisada de hospital que nunca saiu para chegar na ponta, e agora está tendo que improvisar para dar o mínimo de condição de atendimento. Você tem uma região com ausência de estrutura proporcional ao tamanho da população. O que resta fazer? Uma unidade de campanha improvisada para não deixar desassistência”, afirmou Mandetta.

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