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O combate aos gafanhotos na Argentina e a frente fria no Sul do Brasil dificultam as chances de chegada da praga ao Estado

Aplicação de defensivos químicos já eliminou quase 20% da nuvem de insetos no país vizinho. (Foto: Divulgação/Senasa)

Uma combinação de fatores torna cada vez mais remota a possibilidade de que a nuvem de gafanhotos que se desloca pela Argentina chegue ao Rio Grande do Sul, ao menos nos próximos dias. Além da chegada da frente fria, que trouxe chuva e baixas temperaturas ao Estado, ações de combate à praga pelo governo do país vizinho já reduziram em quase 20% o agrupamento, estimado em cerca de 400 milhões de insetos.

O Senasa (Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar) de Buenos Aires veiculou na internet uma série de vídeos sobre o combate ao problema, incluindo a aplicação de defensivos químicos. Técnicos do órgão, em conjunto com autoridades brasileiras, também continuam monitorando a movimentação dos gafanhotos, conhecidos por sua voracidade que representa uma ameaça às lavouras.

Ações preventivas serão mantidas ao longo dos próximos dias nas zonas rurais de municípios gaúchos como São Nicolau, Porto Mauá, Alecrim, Pirapó, Itaqui, Alegrete, São Borja e Porto Xavier, todos localizados às margens do rio Uruguai. As iniciativas têm sido discutidas com as prefeituras e entidades locais do setor.

Fiscais da Seapdr (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural) do Rio Grande do Sul estão atentos à situação em municípios das regiões Noroeste e Fronteira Oeste. E mesmo assegurando que os prognósticos estão agora favoráveis ao Estado no que se refere a uma eventual aproximação, eles ressaltam que ainda não é o momento de “baixar a guarda” – até porque a nuvem está a pouco mais de 100 quilômetros da fronteira, distância relativamente próxima.

“Permanecemos em alerta, já que ainda existe o risco”, relata o agrônomo Ricardo Felicetti, chefe da DSV (Divisão de Defesa Sanitária Vegetal) da pasta, que trabalha em parceria com o Ministério Agricultura, Pecuária e Abastecimento para deixar autoridades e produtores gaúchos preparados a agir se os insetos chegaram ao território gaúcho.

Características

Os gafanhotos em questão são da principal espécie de enxame na América do Sul subtropical, a Schistocerca cancellata, subfamília Cyrtacanthacridinae. Conforme as autoridades de Buenos Aires, a nuvem veio do Paraguai, chegou à Argentina e se aproximou quase 100 quilômetros de Barra do Quaraí.

Com base em imagens de satélite, especialistas calculam que a nuvem abrange uma área de 10 quilômetros quadrados e é formada por cerca de 400 milhões de gafanhotos, cada qual medindo até 3 centímetros de comprimento e pesando 2 gramas. Como esses animais costumam comer diariamente o equivalente a metade de seu peso por dia, o total consumido é de 400 mil toneladas de vegetais em 24 horas.

A Schistocerca cancellata não ataca pessoas e animais. O problema, mesmo, é de ordem econômica e alimentar. A maior ameaça de prejuízo recai sobre plantações de inverno como trigo, aveia e cevada, bem como frutas cítricas, oliveiras, hortaliças e pastagens. Além disso, há danos a equipamentos mecânicos e veículos, inclusive nas aeronaves de baixa altitude.

Emergência

Na quinta-feira, o avanço dos gafanhotos motivou o Ministério da Agricultura a declarar estado de emergência fitossanitária no Oeste do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, devido aos riscos ao agronegócio. A medida permite ações específicas e por tempo determinado, como a contratação de pessoal e a compra de defensivos agrícolas para combater o problema.

O governo brasileiro também deixou de prontidão cerca de 400 aeronaves para controle dos insetos, por meio da pulverização de defensivos. O Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) colabora diretamente na elaboração do plano, inclusive por meio da disponibilização de veículos aéreos.

Na quinta-feira, informações extraoficiais indicavam que a nuvem teria se estabilizado em território argentino, com poucas chances de ingressar no Rio Grande do Sul. Dentre os fatores para esse prognóstico estão a ocorrência de chuva e a queda brusca de temperaturas na Região Sul, quadro que deve se manter nos próximos dias.

A DSV apontou que a concomitância de dados enviados por diferentes fontes resultou em informações discrepantes sobre o deslocamento dos insetos. Assim, o governo gaúcho optou por considerar somente os boletins repassados ao Ministério pelas autoridades do país vizinho.

(Marcello Campos)

 

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