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Déficit de atenção não é só coisa de criança. Adultos com esse problema seriam mais propensos a se envolver em acidentes de trânsito e a abandonar os estudos

Tratamento para adultos é semelhante ao das crianças. Envolve medicamentos e práticas complementares como treinamento cognitivo e meditação, usados para diminuir a dispersão. (Crédito: Reprodução)

Não é só durante a infância que podem surgir sintomas do TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), de acordo com um novo estudo brasileiro. A pesquisa aponta que, ao contrário do que estabelece o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o manual de psiquiatria americano usado como referência em diversos países), o TDAH poderia surgir em adultos que não apresentaram sintomas até a puberdade.

O estudo publicado no Journal of the American Medical Association – Psychiatry acompanhou mais de 4 mil pessoas dos 11 aos 18 anos de idade. No início da pesquisa, 8,9% dos participantes foram diagnosticados com TDAH. No fim, aos 18 anos, 12,2% tinham o transtorno. Excluindo indivíduos que apresentavam fatores que podiam influenciar no resultado, como, por exemplo, o abuso de drogas, os pesquisadores chegaram a um total de 6,3% de adultos com TDAH. O interessante é que somente 17,2% das crianças com o transtorno continuaram com os sintomas na idade adulta e apenas 12,6% dos adultos com o problema o tinham na infância. A preponderância de meninos com déficit de atenção também se inverteu na idade adulta, quando o problema acometeu mais mulheres.

Muita coisa pode explicar essa disparidade. É possível, por exemplo, que pais cuidadosos e estímulos ambientais amenizem um déficit de atenção na infância. Já na idade adulta, quando a cobrança aumenta, seria mais difícil mascarar os sintomas. “Mas também é possível que estejamos diante de dois problemas distintos. O TDAH adulto pode ser independente do infantil”, explica Luis Augusto Rohde, professor da Ufrgs e um dos autores do estudo. Rohde foi o único brasileiro convidado pela Associação de Psiquiatria Americana para elaborar a última versão do DSM.

TDAH em adultos.

Longe das obrigações escolares, o déficit de atenção ganha contornos mais graves. “Pesquisas apontam que adultos com TDAH se envolvem em mais acidentes de trânsito, brigas, são mais propensos a serem presos, a contraírem doenças sexualmente transmissíveis e a largarem os estudos. São, em suma, pessoas mais impulsivas e com dificuldades em lidar com as exigências da vida adulta”, observa o psiquiatra Ernesto Martínez, da Universidad del Norte, na Colômbia.

“Talvez o maior problema do adulto com esse tipo déficit seja a dificuldade em prospectar consequências futuras e em sentir prazer com planos”, afirma o neurologista André Palmini, da Pucrs. “Pesquisas mostram que um adulto normal pode ter seu sistema de recompensa ativado diante da possibilidade de conquistar algo. Quem tem TDHA só sente prazer quando o prêmio de fato chega.”

Isso tornaria os portadores da síndrome mais imediatistas. “É como se o cérebro dessa pessoa fosse eternamente adolescente”, conclui Palmini. O tratamento para adultos é semelhante ao das crianças. Envolve medicamentos (sendo a Ritalina o mais difundido) e práticas complementares como treinamento cognitivo e meditação, usados para diminuir a dispersão. (Folhapress)

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