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Após tarifaço dos EUA, considerado tiro no pé do bolsonarismo e que reabilitou a popularidade de Lula, direita brasileira tenta uma adesão de Trump à pauta da segurança pública

Equiparação das facções a terrorismo vem sendo a principal bandeira da oposição, embora especialistas apontem riscos. (Foto: Eusébio Gomes/TV Brasil)

Depois do tarifaço dos Estados Unidos, considerado tiro no pé do bolsonarismo que ajudou a reabilitar a popularidade do governo Lula, parte da direita brasileira tenta agora uma adesão de Donald Trump à pauta da segurança pública, após megaoperação da polícia fluminense que resultou em 121 mortes. O movimento para “virar a página” do desgaste anterior inclui sinalizações públicas da família Bolsonaro e a busca do governo Cláudio Castro para que o Comando Vermelho seja considerado uma organização terrorista pelos americanos.

A equiparação das facções a terrorismo vem sendo a principal bandeira da oposição, embora especialistas apontem riscos como inibir investimentos, expor vítimas a sanções, além de brechas para intervenção estrangeira no país, ideia refutada pela maioria da população segundo a última pesquisa Genial/Quaest.

A principal sinalização por parte dos americanos até agora se deu com comunicado assinado por James Sparks, da Divisão Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), endereçado ao secretário de Segurança do Rio, Victor Santos. No texto, o representante do governo Trump lamenta a morte dos quatro policiais na operação nos complexos da Penha e do Alemão e oferece às autoridades brasileiras “qualquer apoio que se faça necessário”. A mensagem foi explorada politicamente por nomes da direita, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que disse que o País vive “uma guerra do bem contra o mal”, enquanto Lula “se posiciona em defesa de bandidos”.

No Itamaraty, a carta foi vista como “protocolar”. Diplomatas ressaltam que o documento não partiu de instâncias de alto nível do governo americano, mas de um agente da DEA lotado no consulado-geral dos EUA no Rio. A avaliação é de que se trata de uma manifestação sem caráter político. Mesmo a embaixada dos EUA em Brasília manteve silêncio sobre o episódio, o que, na avaliação de integrantes do governo brasileiro, reforça o entendimento de que o caso não tem peso diplomático e que as tensões recentes entre os dois países arrefeceram.

Virada

Na família Bolsonaro, o teor das publicações nas redes sociais evidencia a tentativa de deixar para trás a defesa de sanções contra o Brasil e se associar ao combate ao tráfico de drogas promovido pelo governo Trump. Nos últimos meses, o americano fez ameaças e bombardeios a barcos no Caribe, perto da Venezuela e da Colômbia, sob a justificativa de combater “narcoterroristas” – o termo tem sido usado por Castro e demais governadores da direita para se referir aos mortos na operação.

Documento do governo do Rio ao americano encaminhado em maio justifica o pedido para classificar o Comando Vermelho como terrorista citando a “crescente sofisticação, transnacionalidade e brutalidade” como critérios para a imposição de sanções econômicas e bloqueios de ativos. Ao serem incluídos na relação da OFAC – agência do Departamento do Tesouro responsável por impor punições –, integrantes e empresas ligadas às organizações criminosas passam a ter o acesso restrito aos sistemas bancários internacionais que operam em dólar, por exemplo.

Segundo Victor Santos, o objetivo é buscar alinhar a atuação brasileira às políticas contraterrorismo global, mais cooperação e facilitar extradição de membros de facções. Para o governo brasileiro, tal classificação não se aplicaria à facção, além de representar uma ameaça à soberania nacional.

Alinhamento

Antes mesmo da operação no Rio, a mais letal da história do País, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou ter “inveja” do que os Estados Unidos estão fazendo na região do Caribe. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro compartilhou uma publicação do secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, e o convidou para aplicar no Brasil o mesmo método de bombardeio que colocou Venezuela e Colômbia no alvo.

Na pesquisa Genial/Quaest realizada no Rio após a operação, uma pergunta mostra como a população, que já rejeitava outros tipos de ação dos EUA no país, repele também a ideia de contar com eles para combater o tráfico.

Perguntados sobre a sugestão de Flávio, 62% a rechaçam, contra 36% que a encaram de forma positiva. Em outros levantamentos do instituto, feitos em todo o território nacional, os brasileiros criticam as tarifas impostas ao país e o fato de Trump associá-las ao julgamento de Bolsonaro no caso da trama golpista.

Já Eduardo postou mais de uma vez sobre segurança nos últimos dias. Em uma das publicações, comparou a carta americana enviada ao secretário de Segurança do Rio ao que chamou de “defesa dos bandidos” por parte do presidente brasileiro. Em outro post, afirmou que os EUA vão “comprar a briga” contra os “narcoterroristas” no Brasil. (Com informações do jornal O Globo)

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