O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) afirmou que cederá sua cadeira no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para a colega de partido Erica Malunguinho, que é sua suplente no posto.
A comissão analisará a denúncia de importunação sexual feita por Isa Penna (PSOL) após Fernando Cury ser gravado passando a mão no seio da deputada durante sessão em plenário na madrugada de quarta-feira (16). O Conselho de Ética é composto por oito membros, mas apenas uma é mulher, a presidente Maria Lucia Amary (PSDB).
“Embora eu tenha um comportamento antimachista, então poderia participar tranquilamente dessa análise, por conta do lugar de fala decidi ceder meu lugar para a Erica. Uma mulher negra, trans, nordestina. Do ponto de vista da representatividade é importante que seja a Erica Malunguinho. A comissão só tem uma mulher”, disse Giannazi.
O deputado também afirmou que houve omissão dos deputados homens que não se posicionaram publicamente contra o caso. “Eu chamei os deputados para se responsabilizarem. O machismo é um problema dos homens, sobretudo. O que houve foi o silêncio masculino da Alesp. Os deputados não foram ao microfone posicionar o repúdio. Eu acho isso um absurdo. Nós temos que combater o machismo estrutural. Somos nós homens que praticamos o machismo, então é uma omissão.”
Em suas redes sociais, a presidente do Conselho de Ética, Maria Lucia Amary, declarou na quinta-feira (17) que analisaria o caso imediatamente. “Tão logo essa queixa formal chegue às minhas mãos, vou imediatamente tomar as providências necessárias, encaminhando para que os fatos sejam apurados. E se efetivamente ficar comprovado a acusação, com certeza dentro da comissão terá a punição necessária”, afirmou em vídeo.
Posteriormente, a deputada disse que o caso será analisado em fevereiro, após o recesso parlamentar. Um dos membros do colegiado, o deputado Emídio de Souza (PT), disse vai que protocolar um requerimento na Alesp para que o conselho se reúna antes do recesso parlamentar. O PSOL também realizou um abaixo-assinado para que o caso seja analisado antes.
Para Giannazi, o comportamento de Cury deveria ser punido com a perda do mandato. “Além de ser um crime grave, foi dentro do plenário. Depõe contra o parlamento. A cassação do mandato seria uma punição exemplar e uma sinalização da Alesp contra o machismo.”
O deputado estadual Fernando Cury foi afastado de seu partido Cidadania na sexta-feira (18).
Em comunicado, o Cidadania afirma que a Comissão Executiva Nacional decidiu a afastar o deputado “de todas as funções diretivas partidárias, em todas as instâncias, bem como de todas as funções exercidas em nome do Cidadania, inclusive junto à Alesp”.
Por meio de nota, o deputado afirma que não foi “informado oficialmente pelo partido” sobre o afastamento e que “não houve qualquer notificação de procedimento interno do Conselho de Ética”. “Tão logo seja formalmente comunicado, irei apresentar a versão dos fatos, exercendo assim meu direito de defesa”, diz o parlamentar.
Pelas imagens das câmeras da Alesp é possível ver que Cury se dirige à deputada Isa Penna, que está apoiada na mesa diretora, e passa a mão no seio e na cintura dela. Imediatamente, Isa Penna tenta afastá-lo. Em discurso no plenário, o deputado pediu desculpas por “abraçar” a colega e negou que tenha ocorrido assédio ou importunação sexual.
O afastamento deve durar até a conclusão do processo no Conselho de Ética do Cidadania, segundo o presidente do partido, Roberto Freire. Em nota, o partido afirma ainda que Freire levou em consideração a gravidade do caso.
Pelo regimento interno do Cidadania, Cury terá prazo de oito dias para apresentar sua defesa após recebida a denúncia do conselho. Entre as sanções que o grupo pode aplicar está a expulsão do deputado do partido.