Em seus três primeiros anos como presidente dos EUA, Donald Trump pagou US$ 1,1 milhão em Imposto de Renda federal antes de não pagar imposto nenhum enquanto seus rendimentos diminuíam e mais uma vez as perdas cresciam em 2020, de acordo com dados fiscais divulgados na terça-feira (20) por uma comissão da Câmara dos Deputados dos EUA.
Segundo os principais advogados tributários apartidários do Congresso, as declarações fiscais de Trump também trazem dezenas de sinais de alerta que requerem uma auditoria mais aprofundada, como despesas questionáveis com jatos particulares, grandes deduções de caridade sem comprovação e pagamentos duvidosos aos filhos do ex-presidente, entre outros.
A análise revela que Trump usou deduções questionáveis e estratégias fiscais agressivas para minimizar seu pagamento de impostos. Entre os itens que precisam de mais escrutínio estão dezenas de milhões de dólares em deduções reivindicadas por Trump e suas empresas, incluindo despesas comerciais enquanto era presidente e US$ 126,5 milhões em amortizações ao longo de cinco anos vinculadas a vendas de uma entidade que não parece que não vendia nada.
Outra questão sinalizada como problemática foi uma dedução de US$ 21,1 milhões referente a um acordo de conservação ambiental na propriedade de Trump em Seven Springs, no condado de Westchester, em Nova York. Essa questão foi objeto de um processo de fraude movido pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, no início deste ano, que Trump rejeitou como um ataque político.
Os novos detalhes sobre os impostos de Trump surgiram de dois relatórios divulgados no fim da noite de terça-feira pela Comissão de Meios e Recursos da Câmara, que travou uma batalha legal para obter as informações do IRS (sigla para Serviço de Receita Interna, em tradução livre) que desembocou até na Suprema Corte. Os relatórios contêm os resumos da comissão sobre suas descobertas, mas não as declarações brutas de impostos, que devem ser divulgadas nos próximos dias.
Os dados, que incluem detalhes das declarações de renda de 2015 até todo mandato de Trump na Casa Branca, também mostram que ele e seus negócios perderam dezenas de milhões de dólares durante a corrida à Presidência e no primeiro ano de seu mandato, quando pagou apenas US$ 750 em imposto de renda federal e relatou prejuízos de US$ 12,9 milhões.
Mas seu destino mudou em 2018, com ele reportando US$ 24,3 milhões de renda bruta total e o pagamento de US$ 1 milhão em imposto federal. As declarações fiscais mostram que Trump também não estava endividado no ano seguinte, relatando US$ 4,4 milhões em rendimentos e pagando US$ 133.445 em imposto.
Em 2020, porém, enquanto o país cambaleava com a pandemia do coronavírus, suas finanças sofreram uma reviravolta: Trump informou um prejuízo de US$ 4,8 milhões, pagando zero em imposto de renda, voltando a seu antigo padrão de reportar prejuízos e pagar pouco ou nenhum imposto.
As novas informações acrescentam ao que se sabe publicamente sobre o histórico fiscal de Trump, algo que ele lutou por anos para manter em segredo. Há dois anos, o New York Times detalhou declarações de renda correspondentes a mais de duas décadas de Trump e de centenas de companhias relacionadas à sua organização empresarial.
Seus relatórios ao IRS retrataram um empresário que ganhou centenas de milhões de dólares por ano, apesar de acumular perdas crônicas às quais agressivamente recorreu para evitar pagar impostos. Mas enquanto a declaração de renda pessoal analisada pelo New York Times vai somente até seu primeiro ano na Presidência, em 2017, a informação divulgada na terça engloba todo o seu mandato.
Os dados recém-divulgados mostram que, em 2018, seu repentino estouro de renda ocorreu amplamente pela venda de propriedades e investimentos com um ganho de US$ 22 milhões. Ele também parece ter esgotado as perdas de negócios que acumulava ano após ano para reduzir sua renda tributável. Os relatórios não deixam clara qual a fonte precisa para o ganho de renda.
Até 2020, no entanto, Trump voltou a relatar prejuízos. Na verdade, apesar dos ganhos de capital que impulsionaram seus resultados 2018, a totalidade de seus principais negócios — em sua maior parte, empreendimentos imobiliários, campos de golfe e hotéis — continuou tendo prejuízos anualmente, somando US$ 60 milhões durante seu período na Casa Branca. Ele conseguiu recuperar US$ 5,47 milhões ao acabar não tendo de pagar impostos previamente estimados como devidos. As informações são dos jornais O Globo e The New York Times e da agência Bloomberg.