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Descoberta mais uma empresa suíça de criptografia controlada em segredo pela agência de inteligência americana

Omnisec AG também fornecia equipamento de comunicação secreta sem revelar vínculos com inteligência americana. (Foto: Reprodução)

Além da Crypto AG, mais  uma empresa suíça de criptografia tinha vínculos ocultos com os serviços americanos de inteligência e vendia equipamentos de comunicação secreta propositalmente corrompidos, revelou a mídia suíça.

A Omnisec AG, baseada em Dälliker, era uma das maiores competidoras internacionais da Crypto AG. Tal como a concorrente, também havia rumores sobre laços da companhia com agências de inteligência americanas há anos. Estas relações só se tornaram públicas nesta semana, com a publicação de uma reportagem da SRF, canal de TV público da Suíça.

A reportagem denuncia que, há até dois anos, quando foi à falência, a Omnisec vendia material de criptografia de voz, fax e dados para governos do mundo inteiro.  Assim como a Crypto AG, os produtos da companhia permitiam que espiões americanos e alemães tivessem acesso a mensagens que seus clientes consideravam seguras.

A Omnisec também vendeu dispositivos de sua série OC-500 para agências federais suíças, para o maior banco do país e para outras empresas privadas do país, relatou a SRF. Em meados da década, agências suíças notaram que os dispositivos não eram seguros.

As novas denúncias vêm à tona enquanto o caso da Crypto AG ainda está muito vivo no debate público suíço. Após décadas de suspeitas, a empresa foi oficialmente desmascarada por uma investigação publicada em fevereiro pelo jornal Washington Post e pela TV alemã ZDF. Um relatório interno da CIA obtido pelos veículos contava como ela passou para as mãos da CIA e da agência alemã BND na década de 1970.

Em reportagem publicada há uma semana, relatou-se como, ao longo de décadas, a Crypto AG forneceu equipamentos e serviços de criptografia ao governo brasileiro. Documentos descobertos por pesquisadores brasileiros mostram que as aquisições começam em 1955 e prolongaram-se no mínimo até dezembro de 2019, incluindo para equipar os submarinos convencionais que estão sendo construídos pela Marinha.

O criptologista e professor suíço Ueli Maurer foi consultor da Omnisec por anos e disse à SRF que em 1989 os serviços de inteligência dos EUA (Agência de Segurança Nacional) contataram a Omnisec por meio dele.

Várias empresas suíças também receberam dispositivos manipulados da Omnisec, incluindo o maior banco da Suíça, o UBS. Não está claro se as autoridades informaram ao UBS sobre os dispositivos corrompidos em meados dos anos 2000. O UBS disse à SRF que não comenta questões de segurança, mas que não tinha indicações de que dados confidenciais foram expostos na época.

O mais recente chefe da empresa, Clemens Kammer, disse à SRF que os clientes da Omnisec “têm e continuarão a dar grande valor à segurança, confidencialidade, discrição e confiabilidade nas relações comerciais”.

A nova descoberta provocou fortes reações, conforme o escândalo da Crypto AG se expande no país. No início deste mês, uma investigação de nove meses pelo comitê de auditoria parlamentar suíço (GPDel), descobriu que o serviço de inteligência do país sabia que a Agência Central de Inteligência dos EUA estava por trás da Crypto AG desde 1993.

O relatório diz que a inteligência suíça posteriormente colaborou com eles para coletar informações de fontes estrangeiras, o que gerou acusações de que a neutralidade do país foi desrespeitada.

Cedric Wermuth, colíder do Partido Socialista, pediu uma investigação parlamentar.

“Como pode acontecer algo assim em um país que se diz neutro como a Suíça?”, questionou, em declarações à TV.

“Esse novo fato levanta a questão da espionagem até mesmo no país”, disse Hans-Peter Portman, deputado do Partido Liberal.

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