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Desvalorização do dólar frente ao real supera 11% no ano e ajuda exportadores brasileiros

Segundo Jalles, da Fitch, o impacto do dólar mais barato no endividamento das empresas brasileiras exportadoras é imediato. (Foto: Freepik)

A combinação de queda dos preços de commodities com o tarifaço de Donald Trump preocupa importantes setores da economia, sobretudo exportadores. Os efeitos negativos, no entanto, podem ser em parte compensados pela desvalorização do dólar em relação ao real – no acumulado do ano até quinta-feira (21), a queda chega a 11,36%.

O preço menor de minério de ferro, aço, alumínio, petróleo e celulose, entre outros insumos, bate diretamente no faturamento das exportadoras, levando-o para baixo. A isso se somam as tarifas, e a consequente desorganização do comércio global. Contra o Brasil, Trump anunciou em abril uma tarifa base de 10%, que em julho subiu a 50% para alguns produtos.

Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, lembra que, em um primeiro momento, o Brasil foi um mercado beneficiado, porque estava entre os países menos afetados pelo tarifaço, e vinha atraindo capital estrangeiro por estar “descontado”, com diferencial de juros atrativo e tarifas mais baixas.

Mas a desorganização do comércio global teve efeitos diretos no preço da celulose, por exemplo. As cotações da fibra curta na China, maior mercado do mundo, vinham se recuperando e chegaram US$ 590 a tonelada em abril. Com o tarifaço, caíram para cerca de US$ 500, uma redução de 16% até agora, segundo índice da Fastmarkets. Isso apesar de a celulose ter ficado isenta da sobretaxa de 40% imposta pelos EUA.

“Em um cenário mais difícil, o que as empresas deveriam fazer, e a gente está fazendo, é buscar alternativas de redução de custo e aumento de eficiência”, diz Marcos Assumpção, diretor financeiro e de relações com investidores da Suzano. No início do mês, a companhia anunciou que está cortando a produção em cerca de 3,5% por 12 meses.

“Essa combinação não é a mais desejada, mas também não é ruim”, acrescenta Assumpção. Segundo o executivo, o dólar médio de R$ 5,40 não é desfavorável para os negócios da Suzano, que segue otimista para o restante do ano.

“Diria que a maior preocupação hoje é com volume de vendas, sendo a questão das tarifas o principal ponto”, afirma Debora Jalles, diretora-sênior de corporates para a América Latina da Fitch Ratings. Para ela, os riscos neste momento estão mais atrelados ao modelo de negócio de cada empresa do que ao câmbio.

Na Embraer, por exemplo, há maior exposição ao mercado americano. Já na CSN, os desafios estão mais relacionados ao mercado local de aço, que sofre com importações crescentes, e aos preços do minério. “São diversas variáveis que exigem análise individualizada”, diz.

A CBA, produtora de alumínio, é uma das afetadas pela variação cambial. “O câmbio desvalorizado é favorável, pois somos um negócio cuja receita é praticamente toda dolarizada e a composição de custos, quase meio a meio entre reais e dólar”, afirma o presidente Luciano Alves. “Entretanto, variações cambiais específicas podem ter comportamentos diferentes, como ocorre agora.”

O diretor financeiro da WEG, André Rodrigues, diz que o dólar depreciado tem algum impacto na receita no mercado externo, mas ele minimiza a situação. “Temos produção em 18 países, em diversas moedas. O que a WEG não gosta é da volatilidade do dólar, que bagunça a estrutura de custos. Tudo indica que o real deve ficar mais apreciado e, se continuar assim, temos um evento contra na consolidação da receita”, diz.

Pedro Galdi, analista de investimentos da plataforma AGF, também avalia que o fluxo comercial sofrerá grandes mudanças com o tarifaço. Para ele, quem tem um “pé” nos EUA não vai ter problemas. “Pelo contrário, será beneficiado, caso da Gerdau. Outras empresas terão de levar uma planta para os EUA ou redesenhar os mercados atendidos”.

O que empresários e acionistas têm a comemorar, por enquanto, é a valorização do real em relação ao dólar, que pode gerar ganhos financeiros quando aplicada sobre dívidas em moeda estrangeira. Essa dinâmica foi observada na temporada de resultados do segundo trimestre, com Suzano e Petrobras revertendo prejuízos bilionários devido, principalmente, os ganhos cambiais.

Segundo Jalles, da Fitch, o impacto do dólar mais barato no endividamento das empresas brasileiras exportadoras é imediato. Mas, na geração de caixa, ainda é “fraco”.

Esses efeitos do câmbio, no entanto, devem se enfraquecer até o fim do ano. Galdi, da AGF, lembra que a previsão do Boletim Focus, do Banco Central, é que o dólar encerre 2025 a R$ 5,60, acima do patamar atual, o que deve reduzir os ganhos financeiros vistos nos últimos trimestres, ainda que impulsione receitas. Com informações do portal Valor Econômico.

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