A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, em São Petersburgo, na Rússia, nessa quarta-feira (26), onde expressou novamente o apoio ao uso de moedas locais para facilitar o comércio entre os países-membros do Brics (bloco diplomático composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Embora não tenha mencionado a guerra na Ucrânia na reunião, em comunicado divulgado mais cedo no Twitter, Dilma já havia adiantado que o órgão, também conhecido por Banco dos Brics, não avaliaria novos projetos de financiamento na Rússia devido às sanções relacionadas ao conflito.
O posicionamento contundente sobre eventuais empréstimos ao país foi ratificado pelo comunicado oficial do banco, divulgado pouco antes da reunião, afirmando que “quaisquer especulações sobre a discussão de novas operações do NBD na Rússia são infundadas”.
Antes do encontro, alguns veículos noticiaram, citando fontes anônimas, que Dilma teria sugerido emprestar dinheiro à Rússia, e que a China supostamente teria reagido à proposta, rejeitando a ideia por receio de o NBD sofrer sanções do Ocidente ao, indiretamente, financiar a ofensiva russa na Ucrânia.
Transações sem dólar
Na reunião, o líder russo criticou o uso do dólar americano como moeda internacional, apontando seu uso como “ferramenta de luta política”. Ele também apoiou os planos de aumentar a liquidez NBD, afirmando que tem confiança de que a ex-presidente brasileira desenvolverá com sucesso “esse mecanismo muito importante” para o órgão.
“Sabemos que há dúvidas sobre a liquidez do banco, que há algumas ideias de seu pessoal sobre isso, e vamos apoiá-los”, afirmou Putin. “As relações dos países do Brics estão se desenvolvendo em moedas nacionais, e me parece que o NBD pode desempenhar um papel significativo nisso.”
Na mesma linha, Dilma, por sua vez, enfatizou que não há justificativa para que países em desenvolvimento “não possam estabelecer trocas em moedas locais”, e ressaltou o papel fundamental do banco na construção de um mundo “mais multilateral e multipolar”.
Adicionalmente, Dilma elogiou o país de Putin como grande parceiro para o bloco, destacando a relevância da Cúpula Rússia-África para o desenvolvimento do chamado “Sul Global”. Porém, alertou sobre a necessidade de monitorar a dívida desses países e sua alta demanda por investimentos, criticando instituições financeiras tradicionais que impõem condições sem o envolvimento do NBD.
Putin já expressou anteriormente seu desejo de utilizar o yuan chinês no lugar da moeda americana em acordos entre a Federação Russa e os países da Ásia, África e América Latina. A ideia reflete um movimento tanto de Moscou como de Pequim de buscar diminuir a dependência do dólar americano nas trocas internacionais e que se acentuou com a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A ideia também é frequentemente defendida pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, embora pontue que é necessário ter calma para promover tal mudança, como afirmou em viagem oficial a Xangai, em abril.
O encontro da ex-presidente do Brasil ocorreu no contexto da segunda Cúpula Rússia-África por sua posição de líder no órgão, cargo ao qual foi indicada em março e que ocupa desde abril deste ano.
Criado em 2014, o banco está aberto à participação de qualquer país que faça parte da ONU. Em 2021, Bangladesh e Emirados Árabes Unidos passaram a ser membros do NDB. O Egito se uniu ao banco em fevereiro deste ano, e o Uruguai está em processo de se tornar um membro efetivo.
Cúpula dos Brics
Além da reunião com Putin, Dilma também terá um encontro bilateral com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Na pauta de discussão estará a próxima Cúpula do Brics, que ocorrerá entre os dias 22 e 24 de agosto no país africano, com o intuito de tratar de questões relevantes e estratégicas para o bloco diplomático. A cimeira contará com a presença de Lula e seus homólogos chinês e indiano, Xi Jinping e Narendra Modi, respectivamente.
Putin, no entanto, desistiu recentemente de sua participação na cúpula, pondo fim a um impasse que já se arrastava há meses. Alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) pela acusação de deportação forçada de crianças ucranianas, Putin aparentemente quer evitar um constrangimento internacional ainda maior para Moscou e Pretória, que se veem pressionadas pelas exigências sobre uma possível prisão do líder russo em solo sul-africano.
Na ocasião, Putin será representado por seu chanceler, Sergei Lavrov, embora o presidente russo deva participar de determinados momentos por meio de videoconferência, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado por agências russas. As informações são do jornal O Globo.
