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Dinheiro virtual afasta os jovens até do caixa eletrônico

A digitalização dos serviços financeiros no país está mudando de forma acelerada a relação com o dinheiro. (Foto: ABr)

Yohana Honda, de 23 anos, estava prestes a pegar um trem na Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando percebeu que não tinha saldo no seu cartão de transporte e muito menos dinheiro suficiente no bolso para pagar a passagem. Ela não costuma usar dinheiro vivo, mas, naquela situação, resolveu tentar fazer um saque num caixa eletrônico. Como nunca havia realizado aquela operação, não conseguiu se entender com a máquina e retirar as cédulas. A solução foi enviar um Pix a um ambulante, que devolveu a ela em dinheiro, única forma de pagamento aceito nas bilheterias dos trens.

O sufoco de Yohana está ficando mais comum principalmente entre os jovens. A digitalização dos serviços financeiros no país, que culminou no Pix, está afastando o brasileiro dos serviços bancários tradicionais e mudando de forma acelerada a relação com o dinheiro. Há quem já tenha dificuldade de reconhecer as notas do real e seja incapaz de usar um caixa eletrônico.

Lembra daqueles envelopes para fazer depósitos em dinheiro nas máquinas das agências? Muitos jovens nunca viram. Saques, depósitos e cheques dão lugar ao Pix, os aplicativos de bancos e fintechs e as carteiras digitais nos smartphones no dia a dia.

Embora possa ter algumas moedas perdidas na carteira, Yohana raramente as usa, assim como as cédulas e cartões de crédito físicos: ela paga tudo ou com Pix ou carteira digital. Até se esforçou para aprender a operar o caixa eletrônico, mas admite que fazer saques não está em sua rotina:

“Confesso que nunca uso, é mais uma coisa de emergência, normalmente só para passagem. Mas já fiz depósito. Meu pai me dava dinheiro físico, mas não tinha onde usar. Então ia num caixa depositar.”

E se geralmente jovens ajudam os idosos com tecnologia, quando se trata do caixa eletrônico, o jogo vira.

“Às vezes eu vou com a minha avó sacar o dinheiro da pensão dela. Mas na primeira vez, nem sabia fazer direito. Ela foi me guiando, aí eu aprendi”, conta a jovem.

Se você não reconhece de bate-pronto expressões como “sacar na boca do caixa”, “depósito em envelope” ou “cheque administrativo”, você deve fazer parte das gerações Z ou Alpha, provavelmente já nascido no século XXI. Para quem cresceu cercado de contas digitais e chegou à adolescência junto com o Pix, a rotina bancária pode parecer um bicho de sete cabeças. Mas a digitalização da vida financeira não é exclusiva dos jovens. Cerca de 22 milhões de pessoas passaram a acessar serviços bancários on-line desde 2022, de acordo com dados da pesquisa Pnad TIC, do IBGE.

82% de operações digitais

De acordo com pesquisa da Febraban, entidade que reúne os bancos, 82% das transações dos brasileiros foram feitas por canais digitais, como aplicativos e sites de bancos, no ano passado. Olhando outros serviços bancários, 98% das pesquisas de saldo e extrato também foram digitais, como 73% das contas pagas, 91% das contratações de crédito e 86% dos investimentos.

Segundo Ivo Mosca, diretor de Inovação da Febraban, a ampliação do acesso aos serviços bancários foi possível graças aos bilhões de reais investidos pelo setor em tecnologia, que permitiram a rápida digitalização da vida financeira, movimento que se acelerou com a pandemia:

“À medida que os canais digitais de atendimento vêm ganhando espaço em detrimento dos presenciais, os bancos estão adequando suas estruturas à nova realidade do mercado, transformando algumas agências em unidades de negócio. Vale ressaltar que praticamente todas as operações bancárias podem ser feitas de forma 100% digital.”

O Pix foi um fator decisivo na aceleração dessa transformação. O sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central (BC) registrou 63,4 bilhões de transações por Pix em 2024, 52% em relação ao ano anterior.

O Pix foi o instrumento de pagamento que mais cresceu no período e o mais usado por Julianny Alves, de 21 anos. Ela até costumava andar com dinheiro para emergências, mas ultimamente passou a resolver tudo no celular mesmo, usando uma conta digital, que abriu no aplicativo de uma fintech. Só teve de abrir outra em um banco tradicional quando precisou receber o salário do primeiro emprego. Foi sua “estreia” numa agência. Quando recebeu um pagamento em dinheiro físico e precisou depositar, não sabia o que fazer:

“Eu pesquisei no Google, mas ainda não tinha conseguido entender como fazer. Aí eu perguntei para uma colega do trabalho, e o pessoal riu de mim, mas ela foi bacana, foi comigo à agência e me explicou como era o processo de colocar notas no caixa.” As informações são do jornal O Globo.

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