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Dirceu usou laranja para comprar a casa da mãe, diz Polícia Federal

Negócio seria indício de ocultação de bens e pode render novo processo contra ex-ministro Dirceu. (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)

A PF (Polícia Federal) descobriu que o ex-ministro José Dirceu usou um “laranja” para comprar a casa onde sua mãe, Olga Guedes da Silva, 94 anos, mora em Passa Quatro, em Minas Gerais. A casa foi comprada em 2005, quando ele ainda era ministro da Casa Civil do governo Lula, por 250 mil reais, por Julio C. dos Santos, que foi sócio de Dirceu na JD Consultoria até 2012.

A informação foi confirmada pelo delegado Márcio Anselmo, que tomou o depoimento de Julio dos Santos, e obteve dele a confissão de que foi usado por Dirceu como “laranja” na compra da residência de sua mãe.

“Nós tínhamos a informação de que a mãe dele morava em uma casa que estava em nome de terceiros e no fim identificamos que está mesmo em nome da empresa do Julio. [Ele] foi usado para a ocultação de patrimônio”, disse o delegado.

Além dessa aquisição, o ex-sócio de Dirceu comprou uma moradia em Vinhedo, no interior paulista, que o ex-ministro pretendia usar como escritório, ao lado da casa que já tinha, em um condomínio fechado. O imóvel foi reformado por 1,3 milhão de reais, despesas pagas pelo lobista Milton Pascowitch, da Jamp Consultoria. À PF, Santos alegou ter adquirido imóveis para Dirceu na condição de “amigo pessoal”.

Segundo o delegado Marcio Anselmo, documentos da compra dessa casa em Passa Quatro foram apreendidos na casa do irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, e mostraram que os dois fizeram ocultação de patrimônio do fisco.

Antes de passar a ser “laranja” de Dirceu, Julio dos Santos era ligado à Central de Eventos, coordenada por Silvio Pereira, o Silvinho, que durante muito tempo foi o secretário-geral do PT e que caiu por ter ganhado uma Land Rover da empresa GDK, fornecedora da Petrobras.

A ocultação de bens deve render mais uma denúncia contra o ex-ministro. Até o final do mês, a PF deverá concluir o inquérito no qual Dirceu deverá ser indiciado por lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha, organização criminosa e falsidade ideológica, segundo antecipou Marcio Anselmo.

“Como José Dirceu é reincidente (no mensalão foi condenado a sete anos e 11 meses de cadeia), se for condenado agora na Lava-Jato, ele perderá o benefício da prisão domiciliar que havia conquistado no processo do mensalão e deve ir para regime fechado”, disse Anselmo.

Delegados que participaram da busca e apreensão na casa do ex-ministro e de seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva disseram na quinta-feira que encontraram mais documentos, anotações e e-mails na casa do irmão do que na casa de Dirceu.

“Encontramos coisa boa na casa do Luiz Eduardo, mas ainda estamos analisando o material apreendido”, disse outro delegado.

Os investigadores informaram ter dados de que José Dirceu não agiu sozinho no caso de corrupção na Petrobras, afirmando que os jornalistas terão “surpresas” nos próximos dias sobre o envolvimento de outros políticos no esquema.

Eles informaram que a PF localizou documentos mostrando que o ex-ministro Luiz Gushiken se beneficiou do esquema de corrupção na Petrobras, mas que como ele já morreu, não poderá ser responsabilizado. Os investigadores não informaram quais seriam os valores pagos a Gushiken, nem como o beneficamento teria ocorrido.

“Mas sabemos que alguém de sua família ainda se beneficia do dinheiro que ele obteve da corrupção na estatal”, afirmou um dos delegados da Lava-Jato. (AG)

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