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Doleiro retirou joias e obras de arte antes de a Polícia Federal chegar, afirma o ex-deputado Eduardo Cunha

Cunha rebateu o ex-amigo Lúcio Funaro, apontado como operador financeiro do PMDB, e disse que o doleiro quer colocá-lo como culpado de tudo. (Foto: Reprodução)

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse nessa segunda-feira que o doleiro Lúcio Funaro, com quem mantinha negócios, soube antecipadamente da Operação Catilinárias, da Polícia Federal, e retirou joias e obras de arte de sua casa.

Cunha presta depoimento à Justiça Federal em Brasília em ação na qual ele próprio e Funaro, que é delator da Lava-Jato, são réus por supostos desvios na Caixa Econômica Federal. Cunha afirmou que, em 2015, foi avisado por Funaro para que não enviasse nenhuma mensagem para ele, tendo em vista que estava sendo monitorado pela PF.

“O Lúcio sabia da busca e apreensão no dia 15 de dezembro. Tanto que ele retirou as obras de arte, as jóias”, declarou o ex-deputado. O peemedebista explicou que, em vez de vasculhar a casa do corretor, na “rua Guadalupe”, em São Paulo, os policiais foram ao endereço do pai dele.

Cunha descreveu sua relação com Funaro, que remontaria a 2003, quando os dois começaram a operar conjuntamente no mercado financeiro. Ele contou que os dois chegaram a lucrar até com o primeiro escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de informação prévia sobre a denúncia.

Em 2004, Waldomiro Diniz, então assessor do ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi exonerado por suspeitas de que recebera propinas de bicheiros para bancar campanhas do PT. “Soube na véspera que a denúncia ia sair. O Lúcio vendeu muito [ações]. No outro dia, a Bolsa despencou. A gente teve um lucro extraordinário só com a perspicácia dele”, contou Cunha, sem dar detalhes de como as informações lhe chegaram.

Questionado se, na ocasião, praticou crime de insider trading (uso de informações privilegiadas para auferir lucro no mercado), Cunha foi veemente: “Não senhor, isso aí é percepção minha”. O ex-deputado depõe desde as 9h30 e dedica sua fala principalmente a desconstruir as acusações de Funaro. O delator chegou a se irritar num momento do depoimento e tentou replicar Cunha, o que não é permitido.

“Ele não tem limites com a covardia dele”, criticou Cunha, ao citar o que chama de mentiras do colaborador.

Temer

O ex-presidente da Câmara ainda afirmou que Funaro nunca teve relação com o presidente Michel Temer, como relatou o doleiro. Funaro sustenta que empresários do grupo Bertin, que atua no mercado de carnes, pagaram propina para Michel Temer e Eduardo Cunha em 2010.

Cunha alegou que recebeu do grupo 500 mil reais em doações legais, mas não lembra de ter pedido recursos para Michel Temer.

O Palácio do Planalto também nega as acusações de Funaro. Cunha ainda confirmou que marcou encontro do grupo Bertin com o atual ministro Moreira Franco, mas sem ter intermediado propina.

No depoimento, Eduardo Cunha pediu para ser transferido para Brasília. Ele cumpre prisão em Curitiba acusado de desvios na Petrobras. Com os bens bloqueados, Cunha afirmou que está sem renda, na penúria, e sem poder ver os advogados, que estão, por enquanto, sem receber pela defesa do ex-deputado.

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