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Doria diz que apoio a Temer é escolha entre ruim e péssimo, “velha política para evitar nova crise”

Doria: próximo presidente deve ser gestor e minimiza Bolsonaro. (Foto: BBC)

Apontado por recentes pesquisas como o nome mais forte do PSDB para a disputa presidencial em 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria, minimiza interesse pela disputa, e diz que isso é assunto para “janeiro do ano que vem”.

Ao mesmo tempo em que não nega que possa concorrer, responde com desenvoltura quaisquer perguntas sobre o cenário eleitoral e ataca alguns de seus possíveis concorrentes na corrida eleitoral.

Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, o prefeito de São Paulo, João Doria, afirma que o próximo presidente do país deveria ser um “gestor”, adjetivo que constantemente usa para definir a si próprio. Ele ainda classifica os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas na corrida presidencial de 2018, como mal informados ou defensores “das mazelas e do mal feito” e minimiza o crescimento do atual segundo colocado, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Questionado sobre seu apoio à permanência de seu partido no governo do presidente Michel Temer, prestes a ser denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal), ele admite se tratar da “velha política” que tanto critica. “Mas há certos momentos na vida em que você tem que fazer a avaliação sobre o ruim e o péssimo” – e o péssimo neste caso, garante, seria “colocar o Brasil numa crise profunda no plano econômico”.

E embora defenda o direito de defesa do senador Aécio Neves, presidente tucano afastado, suspenso do Senado por denúncias de corrupção, Doria afirma que seria prudente que o Diretório Nacional da sigla se posicionasse sobre os pedidos de afastá-lo, “para preservar a imagem do PSDB”.

Repórter – O sr. tem dito que não é um político, mas um gestor, um empresário. Na sua opinião, os países, Estados, cidades não precisam mais de políticos?

João Doria – Eu me considero um gestor, um administrador. Eu não sou um político. Eu estou na política, não sou da política. Isso não significa que eu desrespeite os políticos. Até sou filho de um. Meu pai foi deputado federal e foi cassado pelo golpe militar e exilado em 1964.

Mas sempre fui um homem do setor privado. E com este discurso venci a campanha. E pela primeira vez em 28 anos na cidade de São Paulo um prefeito é eleito no primeiro turno.

E com este discurso tenho feito a gestão nesses primeiros seis meses. E isso tem nos dado um índice de aprovação superior a 70% e assim vamos continuar.

Repórter – No Brasil as pessoas estão muito preocupadas com as relações entre empresários e políticos. Recentemente, nós tivemos uma interceptação de conversas antiéticas entre um empresário e o presidente Temer. O sr. e o seu partido se posicionaram a favor do presidente. O sr. acha que aquela conversa foi ética, que essa é a forma como políticos deveriam se comportar?

Doria – Não foi uma conversa adequada para um presidente da República. Nem na forma, nem no conteúdo, nem no local, nem no horário.

Mas isto não implica definitivamente num equívoco fatal para o presidente. Significa um erro ético e moral, mas não é um fato determinante para o impeachment do presidente.

Repórter – O sr. e seu partido ainda estão em uma coalizão com o partido do presidente. Não seria correto deixar o governo após uma situação como essa?

Doria – Nós estamos do lado do Brasil. Mais do que tudo, é a proteção ao Brasil, à governabilidade, o apoio às reformas no Congresso Nacional.

O desembarque do PSDB do governo neste momento implicaria em colocar o Brasil numa crise profunda no plano econômico e no político. Hoje, nós estamos no plano político apenas. Se o PSDB sair, mergulhamos também no plano econômico.

E tudo o que nós não precisamos é de mais uma crise econômica, porque isso vai atrasar a retomada do desenvolvimento, do crescimento, inibir a criação de novos empregos e mergulhar o país numa crise infindável, cujo resultado é mais desemprego e mais pobreza.

Repórter – Como o senhor vê a ascensão do deputado Jair Bolsonaro?

Doria – Com normalidade. Ele tem um discurso mais à direita, que contagia um universo de eleitores, faz parte do processo democrático. É um candidato assumido, faz campanha há um ano pelo Brasil e isso vai sensibilizando uma parcela dos leitores. Mas não creio que seja uma sensibilização definitiva.

Eu já vi várias vezes histórias de candidatos, e com isso não estou desrespeitando a história, nem a trajetória e nem o valor do deputado. Eu já vi outros candidatos saírem à frente em campanhas e nem sequer irem para o segundo turno. E em São Paulo. (AG)

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