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Dos negaceios e da bagunça

O Planalto alega, entre outras razões, que a obrigatoriedade “incorre em possível violação de domicílio". (Foto: Isac Nóbrega/PR)

É impressionante a capacidade do governo Bolsonaro de se meter em encrencas. Ficaram “desaparecidas” durante dias as gravações da reunião ministerial de 22 de abril passado, requeridas judicialmente pelo ministro Celso de Mello, do Supremo. As fitas se constituem em evidência de prova, a partir das declarações do ex-ministro Sérgio Moro, de que o presidente queria a todo custo interferir na Polícia Federal, o que fere a autonomia da instituição e a lei.

A tática de desatender a ordem judicial foi a mais desrespeitosa e vulgar: nos lugares em que podiam estar guardadas as fitas, se sucederam negaceios e desculpas rotas – uma afronta, quando se trata de assuntos de interesse da Justiça e da própria República. O governo e Bolsonaro agem sempre como se tivessem algo a esconder.

É a mesma coisa que Bolsonaro fez com a ordem da Justiça de que ele divulgue ao público o resultado do seu exame de coronavírus. Ele enrolou, enrolou, e não entregou o diagnóstico. É Bolsonaro sendo Bolsonaro: a sua palavra basta. Afronta infantil, abuso de autoridade, obstrução de Justiça.

Diante da negativa de atender ao pedido simples de mostrar o exame, só mesmo uma freira de clausura deixaria de pensar que, de fato, o presidente foi infectado do vírus, sem apresentar maiores sintomas, como a maioria dos acometidos pela doença.

E sendo assim, enquanto esteve contaminado, a quantos terá passado a doença, como na viagem aos EUA, quando quase toda comitiva foi infectada? E depois de imunizado, quantos foram contagiados nos ajuntamentos que ele provoca, nas andanças golpistas na Praça dos Três Poderes, nos brilharecos do cercadinho, que ele protagoniza todas as manhãs? E quantos mais contágios ele inspira, pelo Brasil afora, com o seu exemplo deplorável?

O governo é uma bagunça só. O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, parecia tratar a sua tarefa hercúlea de combater o covid-19 com um ar de enfado, de lorde inglês. O maestro Dante Mantovani – um terraplanista que abomina o rock como coisa do diabo – já foi nomeado e demitido duas vezes da Funarte. “Erro administrativo”, disseram sem corar, quando ele foi nomeado a segunda vez.

É também impressionante como Bolsonaro impõe humilhações aos seus aliados e companheiros. Sérgio Moro foi fritado em fogo alto e óleo fervendo, durante todo o tempo que ocupou o ministério. Como é um sujeito autoritário para baixo, mas de espinha dobrável para cima, o ex-juiz aguentou tudo, até que lhe pareceu demasiado e pediu as contas.

Ele vocifera com argumentos ad-terrorem, não confia em ninguém, não tira ninguém para compadre, à exceção dos seus filhos, 01, 02, 03 e agora o mais novo, o 04, o pegador.

Na votação do projeto de ajuda emergencial aos Estados e municípios, nem Paulo Guedes, peça-chave do governo, escapou. Na undécima hora, levou uma “facada”: o projeto de congelamento salarial do funcionalismo por 18 meses foi desfigurado em plenário, acentuando o rombo das contas públicas por conta da covid-19, com o apoio declarado dos bolsonaristas. O líder do governo, deputado Vitor Hugo (PSL) explicou a traição: tinha recebido ordem direta do presidente.

titoguarniere@hotmail.com

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