Questionado sobre as críticas que Ciro Gomes (PDT) tem feito contra Lula, o ex-presidente elogiou o cearense em uma conversa que teve com jornalistas na quarta-feira (20), no Instituto Lula, em São Paulo. Mas afirmou que “nem tudo o que a gente pensa a gente pode falar”. Sobre o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República em 2018, o petista disse: “Ele vai até onde o povo quiser que ele vá”.
“O Bolsonaro vai até onde o povo quiser que ele vá. Eu, sinceramente, não vejo como você fazer uma campanha destilando ódio. A urna é um lugar de depositar esperança. Na urna você não deposita ódio. Então eu tenho que fazer uma campanha vendendo coisas que eu acredito serem possíveis fazer para melhorar a vida do povo brasileiro. A política foi demonizada. Não é de graça que se demonizou a política. A demonização da política tem interesses políticos. Quanto menos a sociedade acreditar na política, quanto mais ódio tiver, mais fascista será a sociedade. Esse Congresso atual é a cara do povo em 2014. O povo foi votar permeado pelo ódio. Tem muita gente que vai na Paulista fazer protesto, mas não tem coragem de dizer em quem votou. Tem vergonha.”
Ciro Gomes
“O Ciro faz mal para ele próprio. O problema do Ciro não é que os ataques dele vão me prejudicar. Vão prejudicar a ele mesmo. Nem tudo o que a gente pensa a gente pode falar. Na hora em que pensa bobagem, não fala. Mas eu gosto dele, sou muito agradecido a ele. Ciro é inteligente. Mas a inteligência tem que ser usada para ganhar as eleições. Tem que ter cuidado com as palavras. Quando o Ciro tomar a decisão de ser candidato de verdade, ele terá que saber que o que a gente fala pesa muito contra a gente mesmo”, disse Lula.
África
Petistas têm ponderado ao ex-presidente sobre a oportunidade de uma viagem internacional programada para 26 de janeiro, apenas dois dias depois de seu julgamento pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). Há pouco mais de um mês, Lula confirmou sua presença em um debate na cidade de Adis Abeba, na Etiópia, sobre ações de combate à fome. A previsão é de que Lula passe dois dias na África.
A confirmação aconteceu antes de o tribunal marcar para o dia 24 o julgamento do recurso que apresentou contra sua condenação no caso do triplex em Guarujá (SP). Embora a viagem tenha sido marcada com antecedência, petistas temem que adversários usem essa agenda para alimentar rumores de que Lula pretende deixar o Brasil em caso de condenação em segunda instância.
Dirigentes do PT receiam também que a iniciativa seja associada exclusivamente à FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), cujo diretor-geral, José Graziano, é amigo do ex-presidente. Segundo petistas, esse seria um desdobramento de um encontro realizado em 2013 sobre segurança alimentar que foi organizado pela FAO, pelo Instituto Lula e pela União Africana. A aliados, Lula afirmou que informará a Justiça sobre esse compromisso no exterior.
Alguns petistas têm recomendado que o ex-presidente cancele a viagem para se poupar de desgastes. Mas, segundo colaboradores, o compromisso está mantido. Os defensores da viagem alegam que Lula já tem recusado convites para evitar repercussão negativa. E esse foi aceito por acontecer em janeiro, um mês considerado tranquilo no mundo político. A agenda seria ainda uma oportunidade de difundir internacionalmente a tese da perseguição política.
Para alguns petistas, porém, a manutenção da viagem poderá provocar constrangimentos, com risco de retenção de passaporte a pedido da Justiça. Aliados divergem também sobre a hipótese de Lula ir a Porto Alegre para assistir ao julgamento no TRF-4. Como sua presença não é obrigatória, ele tem sido aconselhado a ficar em São Paulo para se poupar de possíveis contratempos na Região Sul, onde é maior a rejeição ao ex-presidente. Outros sugerem que Lula vá a Porto Alegre para participar das manifestações, mesmo que o volume de militantes fique aquém das expectativas.
