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Eleições 2026: candidatos a vagas de deputado adaptam discurso para priorizar debate da violência

Insegurança no País deverá ser um tema incontornável das próximas eleições. (Foto: Freepik)

Quando o Rio de Janeiro mergulhou em caos na última semana – com a megaoperação policial que deixou 121 mortos e provocou retaliações –, ficou mais uma vez evidente para Daniel Soranz, deputado federal licenciado do mandato para ser secretário municipal de Saúde da capital fluminense, que a segurança pública é uma questão que anda colada com sua principal área de atuação parlamentar, a saúde.

“Somente este ano, as unidades de saúde da cidade do Rio precisaram ser fechadas mais de 800 vezes em decorrência de episódios de violência nas comunidades”, diz Soranz, que é filiado ao PSD e tentará a reeleição para a Câmara dos Deputados em 2026. No mandato em Brasília, muitos de seus projetos se cruzam com a temática da criminalidade. Uma proposta em tramitação quer aperfeiçoar o registro nacional de pessoas baleadas e, com estatísticas mais precisas, adequar o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).

O caso de Soranz ilustra a percepção de que a segurança pública será um tema incontornável das próximas eleições, não só para o Executivo, mas também para os candidatos a vagas legislativas.

Para políticos, dirigentes partidários e outros envolvidos na preparação de candidaturas, mesmo os postulantes que empunham outras bandeiras deverão ser cobrados a se posicionar sobre a insegurança Brasil afora.

Preocupação

Segundo pesquisa Genial/Quaest, a percepção da violência como o principal problema do país cresceu no último ano, passando de 17% das respostas em outubro de 2024 para 31% agora. O problema encabeça o ranking de maiores preocupações dos brasileiros, segundo o levantamento, com 2.004 entrevistas. Em segundo lugar, vêm os problemas sociais, citados por 17% na pesquisa do mês passado.

Diante do quadro, direita e esquerda deram centralidade ao tema. Fundações partidárias – braços dos partidos responsáveis por capacitação de novos quadros e debates ideológicos – estão adaptando seus cursos, cartilhas e seminários internos para priorizar o debate da violência.

A tendência é observada também entre os participantes do curso do RenovaBR, uma escola suprapartidária de formação de líderes. Surgida na onda de renovação da eleição de 2018, a iniciativa mantida com doações privadas está com uma turma em andamento de 141 alunos. Eles se distribuem por todos os Estados, e a maioria quer concorrer a deputado federal ou estadual.

O diretor-executivo da escola, Rodrigo Cobra, conta que, pelos relatos dos pré-candidatos, “o debate da segurança está forte no Brasil inteiro”. A justificativa, para ele, é que o avanço do crime “tem sido um impeditivo para a realização da boa política pública”, prejudicando serviços de saúde, educação e transporte. Com isso, candidatos que não tiverem respostas sobre o assunto poderão se sair mal. Na prática, contudo, os deputados têm certos limites para atuar na segurança. Eles podem propor e modificar leis – o endurecimento das penas é uma demanda – e fiscalizar o Executivo, mas não controlam as forças policiais.

“A segurança pública nesta eleição vai ser um grande tema”, avalia Stella Autuori, diretora-executiva da Fundação 1º de Maio, ligada ao Solidariedade. A dificuldade, segundo ela, é que não existe “uma fórmula pronta” para enfrentar o problema, principalmente a curto prazo. “Depois do que aconteceu no Rio, essa pauta se fortaleceu ainda mais. O que nos cabe é levar uma base técnica boa para os candidatos terem ferramentas na discussão eleitoral e parlamentar.”

No Instituto Libertas, vinculado ao Novo, a segurança e o combate às organizações criminosas aparecem no topo dos temas abordados pelos pré-candidatos para 2026. “Nossos treinamentos são bastante voltados para agenda, e a necessidade de retomada do território perdido para a criminalidade é justamente o primeiro ponto do nosso livro de diagnósticos e soluções”, diz Tiago Mitraud, diretor do Libertas.

O PT tenta combater a ideia de que “o pessoal da esquerda não se preocupa em punir os criminosos”, de acordo com Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo. Ele diz que as atividades de orientação aos futuros candidatos buscam dar “conhecimento de Brasil” e mapear “questões mais críticas, por exemplo, uma visão melhor sobre a questão da segurança”, porque “é importante” ter um discurso. “Nós nos preocupamos, sim, com a punição, mas temos uma visão mais complexa do problema. A questão da segurança é social também”, afirma.

A abordagem sobre segurança defendida pela Fundação Republicana Brasileira, ligada ao Republicanos, é a de buscar “outras perspectivas”, segundo Fábio Vidal, coordenador do núcleo de estudos e pesquisas. “Temos capacitado as pessoas discutindo questões básicas e estruturais dos problemas. Costumeiramente, falávamos de saúde, segurança e educação. Nos últimos tempos, sobretudo neste ano, vimos uma virada, e o tema segurança se tornou muito importante.” (Com informações do Valor Econômico)

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