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Em 14 anos, o mundo terá 41 cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Hoje, são 29

Grandes empresas chinesas fecharam as portas ou disseram aos funcionários para trabalhar de casa. (Foto: Reprodução)

A proporção de pessoas que vivem em ambiente urbano deve saltar de 50% do total da população mundial para dois terços dos habitantes do planeta nos próximos 14 anos. A mesma projeção também indica que a quantidade de megacidades vai aumentar: em 2030, serão 41 aglomerações com mais de 10 milhões de habitantes, ante as atuais 29.

Atualmente, as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro são as únicas no País consideradas megacidades. O Brasil não deve ganhar novas aglomerações tão grandes até 2030. Por outro lado, Bogotá, na Colômbia, Johannesburgo, na África do Sul, e Bangcoc, na Tailândia, são algumas das que devem entrar no rol de megacidades.

Os dados constam de relatório interno produzido em nível mundial pela seguradora Allianz. E encontram eco entre especialistas brasileiros.

“Vale ressaltar o que está acontecendo com as grandes cidades brasileiras”, aponta o arquiteto José Armênio de Brito Cruz. “As taxas de crescimento demográfico vêm caindo, mas, ao mesmo tempo, há uma quantidade menor de pessoas vivendo em um mesmo domicílio. Soma-se a isso a fragilidade da nossa infraestrutura urbana e temos o grande desafio para o futuro.”

Cruz acredita que a solução está no maior adensamento, justamente para otimizar a estrutura e tornar o cotidiano mais viável. “O século 21 é o das cidades, sem dúvida”, comenta o arquiteto Valter Caldana. “A diferença é que não mais moraremos nas nossas casas, mas nas nossas cidades, por causa do compartilhamento e da conectividade.”

O relatório prevê o surgimento, até 2030, de pelo menos duas gigacidades – aglomerações urbanas com mais de 50 milhões de habitantes: Xangai e Pequim. Há um plano do governo chinês de unir sob uma mesma gestão um conjunto de cidades da região metropolitana de Xangai, criando uma aglomeração com 170 milhões de habitantes.

“Mas a falha desse levantamento está justamente em não considerar que o mesmo fenômeno tende a acontecer no Sudeste brasileiro, uma união das metrópoles de São Paulo, Rio, Campinas, Sorocaba, Santos, Vale do Paraíba”, aponta o arquiteto Lucio Gomes Machado.

Falta de uma gestão conjunta.

Para Machado, o problema dessas grandes aglomerações não é o tamanho em si, mas a falta de uma gestão conjunta. “Questões como saneamento, transporte e outras coisas deveriam ser pensadas no macro. Da maneira como acontece, há um desperdício de energia e de recursos absurdo.”

O relatório traz ideias para atenuar os problemas nessas cidades imensas. Carros autônomos, como os que já vêm sendo testados, e uso de drones em serviços de entrega seriam alternativas para minimizar os problemas de mobilidade.

Em nome do ambiente, prédios poderiam ganhar revestimentos com placas de algas e, cada vez mais, telhados verdes seriam necessários. Para suprir a demanda por alimentos, há projetos que viabilizam a agricultura subterrânea. E essas cidades terão de ser organizadas em pequenos núcleos – para que o cidadão, no cotidiano, encare apenas curtas distâncias.

“A cidade ideal será composta por centros autônomos”, diz o especialista Thomas Liesch, da Allianz Climate Solutions. “As pessoas vão viver e trabalhar em seus respectivos distritos, poupando tempo e energia. Esse tipo de desenvolvimento vai melhorar o clima e deixar mais espaço para atividades de lazer e produção de alimentos.”

“As soluções não podem vir apenas da tecnologia, mas também da natureza de cada local. Tem de haver uma mescla”, pondera o arquiteto Caio Dotto. Ele cita como exemplo da falta desse olhar o fato de São Paulo viver uma grave crise hídrica mesmo sendo tão bem servida por córregos e rios. (AE)

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