A 80ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) começou na terça-feira (23) em Nova York (EUA) sob o comando da ex-ministra do Exterior da Alemanha Annalena Baerbock, escolhida em junho para presidir o órgão. É a primeira vez que uma europeia ocupa a função e apenas a quinta vez que uma mulher assume a liderança do principal espaço de deliberação da ONU.
Criada em 1945, a Assembleia Geral reúne anualmente chefes de Estado e de governo para debater temas que afetam toda a comunidade internacional. Ao longo das décadas, o encontro se consolidou como fórum de negociações políticas e palco de discursos que marcaram momentos históricos.
A participação de mulheres, porém, ainda é pequena, tanto entre as lideranças que dirigem os trabalhos quanto no número de oradores que ocupam o púlpito. Além disso, desde a fundação da ONU, nenhuma mulher ocupou o cargo de secretária-geral da organização.
“A baixa presença de mulheres na abertura da Assembleia Geral da ONU reflete um problema estrutural, vivemos em sociedades marcadas pelo patriarcado, uma estrutura de poder e opressão que reproduz papéis sociais desiguais. A política internacional não está isolada disso”, argumenta Jucimeri Isolda Silveira, mestre em sociologia e professora de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
A igualdade de gênero é um dos compromissos fundamentais da ONU. O tema aparece como o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, ao lado do combate à pobreza e à fome, da mitigação dos efeitos da crise climática e da promoção da educação de qualidade. A meta é aumentar a presença de mulheres em posições de comando e reduzir barreiras que limitam a participação em espaços de decisão política e econômica.
Em 2025, apenas 25 países têm mulheres no comando como chefes de Estado ou de governo. No Legislativo, elas representam 27,2% das cadeiras nos parlamentos nacionais. A participação feminina no Executivo também é limitada: menos de um quarto dos cargos ministeriais no mundo é ocupado por mulheres, segundo dados da União Interparlamentar (UIP) e da ONU Mulheres.
Mesmo com os avanços registrados em países e organismos internacionais, a Assembleia Geral da ONU, que integra o núcleo central da entidade, ainda enfrenta limitações para ampliar a paridade, segundo especialistas ouvidos pela DW.
A estrutura de poder da instituição continua majoritariamente masculina, reforçando a distância entre o discurso de igualdade e a prática dentro do próprio órgão. “Trata-se de um reflexo da realidade interna dos países, que se soma e produz um déficit democrático global”, complementa Silveira.
Em oito décadas de existência, a Assembleia Geral da ONU elegeu apenas cinco mulheres para comandar seus trabalhos. A primeira foi a indiana Vijaya Lakshmi Pandit, em 1953. Figura importante na política de seu país após a independência, ela foi eleita em um momento em que a presença feminina em cargos de destaque internacional era rara.
Quase duas décadas depois, em 1969, a liberiana Angie Brooks se tornou a segunda mulher a presidir a Assembleia. Jurista e diplomata, ela já atuava em comissões voltadas para os territórios autônomos da África. Sua trajetória abriu espaço para iniciativas futuras, como o Centro Internacional Angie Brooks, criado na capital liberiana Monróvia, que ainda hoje promove debates sobre liderança feminina, paz e segurança.
A terceira foi Haya Rashed Al Khalifa, do Bahrein, em 2006. Advogada e diplomata, assumiu a 61ª sessão da Assembleia em um contexto de discussões intensas sobre Oriente Médio e reformas institucionais da ONU. Em 2018, foi a vez da equatoriana María Fernanda Espinosa. Ao vencer a disputa com a candidata de Honduras, ela dedicou a vitória a todas as mulheres que enfrentam discriminação e obstáculos na política.
A lista se completa com a alemã Annalena Baerbock, eleita em junho de 2025 para conduzir a 80ª sessão da Assembleia. Em sua primeira fala como presidente-eleita, reforçou que a “paz e o desenvolvimento só podem ser sustentados quando as mulheres, que são metade da população mundial, têm lugar equitativo nas mesas de decisão”.