Ícone do site Jornal O Sul

Em crise com o presidente da Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto aposta mais uma vez no presidente do Senado para manter um mínimo de governabilidade

Alcolumbre, por outro lado, gerou mais atenção em outros momentos do ano, como quando foi alvo de bolsonaristas por suposto favorecimento a um assessor em repasses de emendas. (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Em crise com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o Palácio do Planalto aposta mais uma vez no presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para manter um mínimo de governabilidade no Congresso. Articuladores políticos do governo e integrantes da equipe econômica procuraram o senador para um acordo envolvendo a aprovação de projetos e veem nele um aliado na busca por uma solução para crise do IOF, o que reforça o cenário de dependência do Poder Executivo.

Após levar ao plenário do Senado na semana passada a votação envolvendo o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ajudando a derrotar o governo, Alcolumbre passou a dar sinais de que busca reduzir as tensões. O portal O Globo recebeu relatos de interlocutores que conversaram com o presidente do Senado nos últimos dias — todos disseram que há uma intenção em baixar a fervura da crise. O movimento está alinhado à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou uma conciliação entre Legislativo e Executivo a respeito do tributo.

Na terça-feira (1º), o Senado aprovou a Medida Provisória (MP) que vai permitir novos leilões do pré-sal e deve abrir um espaço de R$ 15 bilhões para o governo investir em projetos como o Minha Casa Minha Vida. No dia seguinte, os senadores também endossaram outra MP de interesse da gestão petista, estendendo o empréstimo consignado a entregadores e motoristas.

Após as votações, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), transmitiu a Alcolumbre uma mensagem em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradecendo pela colaboração.

Ao ser questionado sobre a ação em que a Advocacia-Geral da União (AGU) questionava decisão do Congresso, Alcolumbre disse que o Planalto tinha “legitimidade” para tomar tal iniciativa, indo na contramão do tom majoritário do Congresso, que se mostrou incomodado com o processo.

Desde que a crise eclodiu, o presidente do Senado vem mantendo contato com integrantes do governo, caso do próprio ministro da AGU, Jorge Messias. Além disso, Alcolumbre recebeu na quarta-feira, na residência oficial da presidência do Senado, o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. No dia anterior, havia se encontrado com os senadores Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, e Renan Calheiros (MDB-AL), que tentaram mediar a construção do arrefecimento da crise.

“Esfriar os ânimos”

De acordo com aliados do presidente do Senado, ele disse nas duas reuniões que ficou incomodado com o discurso, estimulado por apoiadores do governo, de que os parlamentares são inimigos do povo. Apesar disso, a avaliação é que há um caminho aberto para o distensionamento. O Planalto vê em Alcolumbre um nome que terá menos resistências à tentativa de insistir com a alta do IOF ou ao menos encontrar uma solução que recomponha rapidamente a receita esperada com o imposto.

Alcolumbre também recebeu na semana passada o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), um dia depois de o decreto do IOF ser derrubado. Após a reunião, o petista saiu com a avaliação de que não há clima de enfrentamento.

— O presidente Davi tem vontade de esfriar esses ânimos, e o Brasil não pode sofrer com isso. Sou a favor do apaziguamento, da conversa, do entendimento. Ele se empenhou para aprovar a MP do Pré-Sal e, no dia seguinte, a do consignado. Vejo que existe uma tentativa de reaproximação — disse o líder do PSD no Senado, Omar Aziz (AM),

Aliado de Alcolumbre e ex-presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) também foi escalado para apaziguar a situação, já que tem bom diálogo com integrantes do Congresso, Executivo e Judiciário.

Aliados do presidente do Senado dizem que houve um grande incômodo pelo modo como o governo vem tratando algumas divergências com o Congresso. Interlocutores de Alcolumbre dizem que ele foi cobrado por senadores a dar uma resposta ao governo, o que aconteceu com a derrubada do decreto. Há, no entanto, um entendimento de que o Senado sempre precisará ter um porta aberta para o diálogo para o governo e que os gestos recentes foram na direção de diminuir a crise.

Sair da versão mobile