Escolhido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para assumir o Ministério da Justiça no próximo governo, Sérgio Moro disse que está recebendo diversas ameaças devido a suas propostas e que e, por isso, ainda não pediu exoneração do cargo de juiz federal. A afirmação foi feita em entrevista na noite de domingo (11). Na ocasião, ele cometeu um ato falho ao se definir como “um político” que não mente.
Ele está atualmente de férias da função, enquanto atua no processo de transição de governo. O acúmulo das duas funções tem sido criticado por opositores. “Tenho recebido diversas ameaças. Se daqui uns dias eu peço exoneração e acontece alguma coisa comigo, minha família fica desamparada, fica sem proteção. Por isso estou esperando esse momento de férias, para então pedir exoneração e assumir como ministro”, explicou.
O juiz negou que já esteja exercendo uma função no poder Executivo e alegou que não está cumprindo compromissos oficiais por enquanto, apenas colaborando com a transição. Disse ainda ter ficado “tentado” ao ser sondado pela primeira vez no dia 23 de outubro pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, para entrar para o governo. “Há uma grande expectativa, espero corresponder.” Ele aceitou oficialmente o convite de Bolsonaro no dia 1º de novembro.
Durante a entrevista, Moro voltou a dizer que, apesar de aceitar o cargo de ministro, não migrou para a política. Ele repetiu o argumento de estar assumindo um cargo “predominantemente” técnico, reconhecendo, no entanto, que pode ser “ingênuo”. O futuro ministro, porém, cometeu um ato falho ao justificar-se: “Não sou um político que minto”.
“Eu não falto com a verdade, não sou um político que minto. Tenho respeito aos políticos, política é uma das mais nobres profissões que existem, mas é uma questão de natureza”, disse, ao ser indagado se poderia mudar de ideia futuramente e candidatar-se à Presidência. Alertado pela jornalista e apresentadora Poliana Abritta pelo ato falho, Moro se corrigiu: “não sou político e não minto”.
Corrupção no futuro governo
Ainda durante a entrevista, questionado sobre o que deveria acontecer com integrantes do futuro governo eventualmente acusados de envolvimento com corrupção, Moro defendeu uma análise de provas para, se for o caso, afastar ministros.
A jornalista perguntou se ele seria o responsável, e Moro respondeu que sim. “Eu ou outro conselheiro do presidente.” No começo do mês, em sua primeira entrevista a jornalistas após aceitar assumir a Justiça, Moro defendeu o agora colega Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil, que admitiu ter usado dinheiro de caixa 2 da JBS-Friboi para pagar dívidas eleitorais. “Quanto a esse episódio no passado [caixa 2], ele mesmo admitiu os seus erros e pediu desculpas, e tomou as providências pra reparar”, disse Moro na ocasião.
Refutou ainda que minorias estariam em risco no novo governo, após declarações de Bolsonaro durante a campanha de “acabar com qualquer ativismo”. “Eu acompanhei todo o processo eleitoral e nunca vi propostas de cunho discriminatório às minorias. Não acho que estejam ameaçadas. Nada vai mudar. Tenho grandes amigos que são homossexuais. Uma das melhores pessoas que eu conheço é homossexual. Não ingressaria em um governo se houvesse sombra de suspeita que exista política nesse sentido.”
