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Em novos áudios, Joesley Batista diz ser “um criminoso” e revela táticas para obter delação premiada

Joesley Batista ao deixar a Superintendência da Polícia Federal após prestar depoimento. (Foto: Rovena Rosa/ABr)

Gravações divulgadas pela revista Veja mostram o empresário Joesley Batista reclamando da lei de organizações criminosas. Assim como o primeiro áudio que resultou na prisão de Joesley e no processo de revisão da colaboração premiada da JBS, esses arquivos também foram, segundo a revista, entregues acidentalmente à Procuradoria-Geral da República (PGR).

“Se você tem problema e o problema é, como se diz, batom na cueca, ô meu, corre lá e faz essa porra dessa delação”, diz Joesley, a um interlocutor chamado de Gabriel.

De acordo com a revista, a Polícia Federal suspeita que o interlocutor seria o deputado Gabriel Guimarães (PT-MG). Joesley diz que o próximo passo das investigações seria a delação de políticos.

“É a próxima onda. Começou com os operadores fazendo delação, aí começou (sic) depois os empresários, agora os políticos. Depois dos políticos eu não sei quem mais vai delatar, vai ser o Judiciário?”

Joesley conta que fazia reuniões periódicas com o procurador Anselmo Lopes e reclama da forma como o investigador vinha conduzindo as operações sobre o seu grupo empresarial. Joesley contou ter feito relatos a Renan Calheiros, quando ainda estava na presidência do Senado, sobre a negociação de um acordo de leniência. O empresário afirma que a negociação era de R$ 1,5 bilhão. No fim, após a delação, o grupo controlador da JBS aceitou pagar R$ 10,3 bilhões.

Em nota, a defesa dos colaboradores da J&F afirma que os áudios “não foram entregues ‘acidentalmente’ à PGR pelos executivos da JBS, nem são mais recentes que os demais já divulgados”. Segundo a empresa, as gravações “já haviam sido recuperadas dos aparelhos entregues há meses por Joesley Batista à Polícia Federal e estavam com sigilo decretado pelo STF por se tratarem de diálogos entre advogados e clientes”.

Joesley relata ter ouvido do ex-ministro José Eduardo Cardozo, em 2013, elogios à lei de organizações criminosas.

“Eu fui lendo e lembrando o Zé comemorando a aprovação. E quando eu terminei de ler, falei: eu sou um criminoso e eu faço parte de várias organizações criminosas. Porque, o que diz lá? Junta quatro pessoas que comete (sic) um ilícito. Eu sempre tenho mais de três. Porque, na largada, já é (sic) eu e meu irmão, aí tem mais um funcionário e um político. Já deu”, disse o empresário.

Joesley conta também ter se reunido novamente com o ex-ministro da Justiça e que ele reconheceu ter sido “enganado” na aprovação da lei.

“Eu janto com o Zé agora, um mês, dois meses atrás. No iniciozinho, deixa eu te perguntar… Lembra aquela vez que a gente jantou e você tava feliz comemorando a lei do combate ao crime organizado? E ele: ‘Puta cagada Joesley, nos enganaram. Aprovamos essa lei acreditando que era para o crime organizado e para o narcotráfico. Eu e a Dilma. Nos engaram’.”

A Veja também revelou a existência de um relatório do Coaf, órgão do Ministério da Fazenda que fiscaliza transferências financeiras suspeitas, apontando que o grupo J&F movimentou R$ 248 bilhões em movimentações possivelmente irregulares nos últimos 14 anos. O documento foi anexado pela PGR à segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.

As investigações dissecam movimentações bancárias de sete empresas do grupo, como Eldorado, Flora e Vigor, envolvendo compras de imóveis, de joias, apólices de seguros, entre outros.

Conforme o jornal O Globo, o Coaf informou que “não comenta casos específicos, por dever de sigilo”.

Michel Temer

O presidente Michel Temer divulgou nota, dizendo que as gravações feitas pelos delatores são uma “grande armação” de “meliantes” que, de maneira “sórdida e torpe”, tentam desestabilizar o seu governo. A nota acusa membros do Ministério Público Federal (MPF) de atuarem como “integrantes da santa inquisição”:

“A cada nova revelação das gravações acidentais dos delatores da JBS, demonstra-se cabalmente a grande armação urdida desde 17 de maio contra o presidente Michel Temer. De forma sórdida e torpe, um grupo de meliantes aliou-se a autoridades federais para atacar a honradez e dignidade pessoal do presidente, instabilizar o governo e tentar paralisar o processo de recuperação da economia do País.”

Na nota, Temer cita trechos dos áudios recuperados pela revista para questionar a credibilidade dos delatores da JBS e reitera ter sido alvo de “conspiração”. Uma das falas de Saud, segundo o presidente, deixa claro que integrantes do MPF “ficaram decepcionados” com o conteúdo da gravação existente, na qual Saud conversaria com a advogada Fernanda Tórtima, que participou do acordo de delação premiada de executivos da JBS.

 

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