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Em tempos de crise, mulheres vão desfilar com fantasias que custam até 35 mil reais

Apesar de ‘‘tirar muita onda’’ com os figurinos, Nilce não costuma gastar um centavo com eles. Crédito: Reprodução

Na certidão de batismo, Nilce Santos. Na Marquês de Sapucaí, no Rio, Nilce Mell. Aos 34 anos, a passista Beija-Flor cumpre a liturgia diária da maioria dos trabalhadores brasileiros, pega ônibus, dá plantões como técnica de enfermagem, mas também sai por aí com fantasias que chegam a custar 35 mil reais. A azul e branco costuma desfilar com 4 mil componentes. E apenas 300 pessoas pagam por fantasias. As outras 3,7 mil são dadas de graça. Mas é preciso ir aos ensaios da escola, às quintas-feiras.

Apesar de ‘‘tirar onda’’ com os figurinos cravejados de cristais Swarovski e penas de faisões albinos (um dos mais caros do mercado), Nilce não costuma gastar um centavo com eles. Mesmo com a crise, a escola carioca doa fantasias de luxo para cerca de 30 destaques, que também fazem shows de samba ao longo do ano pela escola.

Figurino.
“É uma sensação de realização que não tem preço. Aliás, a gente acaba ganhando duas vezes. Porque recebemos cachê pelo show que fazemos, além da fantasia que ganhamos de presente”, comemora.

Para não estragar o figurino, que, segundo ela, demoraria mais de oito anos para pagar com seu salário, Nilce guarda cuidadosamente todas as peças. Elas ficam estocadas em uma mala, embrulhadas em cangas.
“Costumo andar de sandália rasteirinha. Mas quando vou para o samba, isso muda. Dia desses, por exemplo, eu estava esperando um ônibus, e uma vizinha viu que todos estavam me olhando, com um ar de espanto. Eu nem ligo mais. Uso decotão e batom vermelho mesmo”, afirma Nilce.

Musa da Vila Isabel, Dandara Oliveira, 27, está na escola há 20 anos. Neta de Jaiminho Harmonia, um dos baluartes da escola, ela confessa que adora levar suas roupas de passista para casa. A fantasia usada nos desfiles fica em exposição em um ateliê.

“Fico me sentindo glamourosa, claro. Se não fosse pela escola, eu não conseguiria ter uma roupa assim tão cara”, admite Dandara, que trabalha como professora de samba. (AG)

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