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Embaixador francês ironiza Bolsonaro após ele falar sobre a vida “insuportável” na França

Gérard Araud respondeu a Bolsonaro, citando os índices de violência nos dois países. (Foto: Reprodução)

O embaixador francês nos EUA, Gérard Araud, ironizou nesta quarta-feira (19) declaração do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de que a vida na França havia se tornado “simplesmente insuportável” por causa da imigração. “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”, escreveu Araud em uma rede social.

A postagem foi em resposta a fala de Bolsonaro na quarta, durante transmissão ao vivo em seu Facebook, em referência ao pacto global de migração aprovado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e assinado pelo governo brasileiro. Ele diz que irá rejeitar o documento.

Antes, seu futuro chanceler, Ernesto Araújo, já havia dito que o Brasil deixará o pacto. “Todo mundo sabe o que está acontecendo com a França. Está simplesmente insuportável viver em alguns locais da França. E a tendência é aumentar a intolerância. Os que foram para lá, o povo francês acolheu da melhor maneira possível. Mas vocês sabem da história dessa gente, né? Eles têm algo dentro de si que não abandonam as suas raízes e querem fazer valer a sua cultura, os seus direitos lá de trás, e os seus privilégios”, disse o presidente eleito.

“Não somos contra imigrantes, mas, para entrar no Brasil, tem que ter um critério bastante rigoroso. Caso contrário, no que depender de mim, não entrarão”, acrescentou.

O documento, assinado por 165 países no começo de dezembro no Marrocos, foi ratificado com 152 votos a favor, 5 contra – Estados Unidos, Hungria, República Tcheca, Polônia e Israel – e 12 abstenções, entre eles o Chile.

O pacto, o primeiro a nível mundial para administrar os fluxos migratórios, traça 23 objetivos para desestimular a migração ilegal, num momento em que o fluxo de migrantes aumentou para mais de 250 milhões no mundo.

Mais de 80% daqueles que se movem de um país para outro fazem isso de forma legal, entretanto mais de 60 mil pessoas morreram ao tentar atravessar fronteiras ilegalmente desde o ano 2000, segundo dados da ONU.

Líderes populistas e de direita de vários países tomaram medidas draconianas para impedir a entrada de migrantes. Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos buscaram até o último momento que outros países não apoiassem o pacto. O fato de o acordo não ser vinculante preocupa ONGs e defensores de direitos humanos, que temem que suas disposições não sejam completamente instrumentalizadas.

Mudanças climáticas

Há poucas semanas, em Buenos Aires, o presidente francês Emmanuel Macron criticou abertamente Bolsonaro por conta de suas posições sobre mudanças climáticas. O francês ainda deixou claro que, se houver uma retirada do Brasil do Acordo de Paris, não haverá um entendimento entre a União Europeia e o Mercosul no comércio.

Até mesmo a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, já havia afirmado que Bolsonaro diz “coisas desagradáveis que são intransponíveis na França”.

Outro francês, o chefe da pasta de economia da União Europeia, Pierre Moscovici, também lançou críticas contra o brasileiro. “Bolsonaro é evidentemente um populista de extrema direita”, disse o ex-ministro francês em diferentes governos socialistas em declarações à TV do senado francês. “Atrás dele, vemos a sombra dos militares que estiveram por um longo tempo no poder no Brasil, constituindo uma ditadura terrível”, declarou.

 

 

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