A absolvição do ex-presidente Donald Trump no segundo impeachment certifica o controle que ele exerce sobre o Partido Republicano, a despeito dos dez deputados e sete senadores que se rebelaram e o responsabilizaram por incitação à insurreição. No placar final, de 57 a 43 no Senado, o ex-presidente se salvou da condenação por dez votos. Mas não escapou ileso.
Trump e o partido saem moralmente abatidos no julgamento político mais curto da história dos Estados Unidos, marcado pelo horror das imagens que mostraram a vulnerabilidade dos congressistas e do vice-presidente Mike Pence, sob ataque de extremistas-seguidores do ex-presidente.
Para os republicanos, a absolvição tem sabor amargo e está mais atrelada à lealdade do que propriamente à credibilidade e à fé em Trump. O maior exemplo de sua força vigorosa sobre o partido é a justificativa aparentemente contraditória do líder da minoria republicana, Mitch McConnell, que o inocentou, mas num duro discurso considerou-o responsável pela invasão do Capitólio.
“Os rebeldes se tornaram violentos porque foram alimentados com falsidades selvagens pelo homem mais poderoso da Terra. Ele estava com raiva por ter perdido a eleição”, resumiu o senador.
O recado de McConnell é preciso, traça o caminho árduo que o Partido Republicano tem pela frente se quiser soltar as amarras do líder que nos últimos quatro anos atuou como agente da desordem, descomprometido com o Estado de Direito.
Não restam dúvidas de que, com seu veredicto favorável a Trump, 43 senadores republicanos se assumem reféns do ex-presidente, cientes da força dominante que ele mantém sobre a base de seguidores. O medo ou as ambições eleitorais superaram qualquer desconforto gerado pelas cenas de fanáticos soltos pelo Congresso à caça do vice Mike Pence.
Apesar das sete deserções, Trump ainda é o nome mais forte da legenda para a eleição de 2024. Embora silenciado nas redes sociais, não perdeu tempo: cantou vitória, transferiu a responsabilidade para os opositores e anunciou em breve o recomeço de seu movimento político.
Os senadores que livraram Trump da condenação desperdiçaram também uma chance para empoderar o Partido Republicano.
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Trump não foi ouvido diretamente desde que se retirou para uma espécie de exílio pós-eleitoral auto-imposto em seu clube privado de Mar-a-Lago, na Flórida.
Portanto, um dos elementos chocantes do julgamento foi ouvir sua voz novamente em horas de vídeo reproduzidas pelos gerentes de impeachment da Câmara para apresentar seu caso. Trump ainda pode ter legisladores republicanos sob controle, mas é muito mais difícil para o público saber, momento a momento, o que ele está pensando.
Essa é uma perspectiva interessante para o avanço da política americana. As ordens de marcha durante um julgamento de impeachment são fáceis: absolver. Mas Trump deve ter ficado frustrado, furioso e morrendo de vontade de colocar seus pensamentos à vista durante o julgamento. Ficamos nos perguntando quais eram eles – ou esperar para ler nos jornais – em vez de vê-los aparecendo em nossos telefones a cada poucos minutos.