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Emissário detalha entregas de quase 4 milhões de reais para o senador Renan Calheiros

Calheiros é o relator da comissão, instalada na terça-feira. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

A PF (Polícia Federal) ouviu um investigado que revelou ter feito parte de esquemas para viabilizar supostas entregas de R$ 3,8 milhões em dinheiro vivo da J&F para o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB). O depoimento foi tomado em Brasília, no âmbito de inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga a suposta compra do apoio do MDB à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Durval Rodrigues da Costa diz ser, há 20 anos, amigo pessoal do delator Ricardo Saud, executivo do grupo J&F. Trabalhou como assessor do ex-deputado federal Aracely de Paula (PR), e também para o governo de Minas Gerais. Ele falou à PF no dia 21 de maio.

O depoimento em que detalha as supostas entregas tem sido corroborado com respostas de hotéis e companhias aéreas à Polícia Federal em que confirmam suas estadias durante as eleições em cidades onde diz ter feito entregas.

Costa também reconheceu, por meio de fotos a ele apresentadas, os rostos dos homens de confiança do emedebista que teriam operacionalizado os repasses.

A Polícia Federal pediu para que o inquérito contra emedebistas seja esticado por mais 60 dias.

Segundo Costa, em 2014, Ricardo Saud pediu um “favor”. Ele relata que buscou Saud no aeroporto, em Brasília, e que o levou até a residência oficial do então presidente do Senado. Durante a reunião entre o executivo e o emedebista, teria ficado em uma sala separada.

Após o encontro, Saud teria dito a Renan que Costa “era uma pessoa de sua confiança e que estaria pronto para executar o que havia sido combinado”. O emedebista teria “acatado a indicação”.

Costa diz ter sido orientado por Saud a se encontrar, então, com o publicitário André Gustavo Vieira – condenado na Lava-Jato, em segunda instância, a 6 anos e 4 meses, após admitir que operou propinas para o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine.

Segundo Costa, em um encontro em Recife, André Gustavo “revelou que seria necessária a realização de várias viagens para entrega de valor de entorno de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) na cidade de Maceió ao Senador Renan Calheiros”. A primeira entrega, na capital de Alagoas, seria uma mala de R$ 600 mil. Em seguida, outras viagens teriam de ser feitas.

O inquérito foi aberto em maio, pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). As suspeitas foram levantadas nas delações premiadas do executivo Ricardo Saud e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Em sua delação, Saud disse ter havido pagamento da ordem de R$ 46 milhões a senadores do MDB, a pedido do PT. De acordo com o executivo, apesar de diversas doações terem sido oficiais, trata-se de “vantagem indevida”, já que dirigentes do PT estariam comprando o apoio de peemedebistas para as eleições de 2014 para garantir a aliança entre os dois partidos.

Segundo o delator, o pagamento milionário tinha o objetivo de manter a unidade do MDB, devido ao risco na época dos fatos de que integrantes do partido passassem a apoiar formalmente a campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República em 2014.

O esquema teria beneficiado os senadores Eduardo Braga (MDB-AM), Jader Barbalho (MDB-PA), Eunicio Oliveira (MDB-CE), Renan Calheiros (MDB-AL), Valdir Raupp (MDB-RO) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rego.

Sérgio Machado, por sua vez, declarou ouvir em reuniões ocorridas na residência de Renan, “que o grupo JBS iria fazer doações ao PMDB, a pedido do PT, na ordem de R$ 40 milhões”.

O inquérito também foi abastecido com a delação do ex-ministro Antonio Palocci, que afirmou ter conhecimento de supostos pagamentos de R$ 30 milhões da J&F com o uso de contas fora do país para o MDB, com o fim de compra de apoio à reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.

O advogado Luís Henrique Machado, que defende Calheiros, afirmou: “A delação de Palloci, como é de notório conhecimento, foi recusada pelo Ministério Público por ausência de provas. No que tange à delação de Ricardo Saud, e de pessoas vinculadas a JBS, a própria PGR pediu a revogação dos acordos. Nesse contexto, são delações que não gozam de qualquer credibilidade. É válido lembrar que 10 processos já foram arquivados em relação ao Senador Renan, em grande parte por menções irresponsáveis de delatores que visam tão somente o benefício do acordo entabulado com as autoridades investigativas, sem apresentar nenhuma prova que desabone a sua conduta.”

O grupo J&F informou que não irá se manifestar.

O publicitário André Gustavo Vieira afirmou que o ‘único contato e amigo na JBS era o próprio Joesley Batista’. “Aliás isso é público. No mais você está fazendo referência a uma delação premiada que está no STF alvo de questionamentos em relação a sua verdade ou omissão da verdade. Portanto não me pronuncio sobre tema em tais circunstâncias”.

A assessoria de Dilma Rousseff informou que a ex-presidente não obteve acesso ao depoimento.

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