Assim como na vida, na economia poderiam existir gêmeos, e desses bem diferentes. O IGP-M e o IPCA nasceram para medir a inflação, mas cada um tem o seu jeito.
O IGP-M fechou 2020 acima de 23%, a maior variação desde 2002. Já o IPCA não tem ainda o mês de dezembro, mas até novembro chegou a pouco mais de 3%.
O IGP-M ficou tão falado porque é o índice que reajusta a maioria dos contratos de aluguel — claro, com inquilinos de cabelo em pé. Mas se o IPCA e o IGP-M medem a mesma coisa, a inflação, como os resultados podem ser tão diferentes? É que os dois índices fazem fotografias da economia com ângulos também diferentes. No IPCA, o enquadramento é bem mais fechado. Já o IGP-M, registra um ambiente muito maior da economia.
O IGP-M é calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e usa três outros índices para o resultado final. O IPCA mede o custo de vida das famílias. O IPCA mede os preços de produtos do agronegócio — as commodities, como milho, soja e minério de ferro —, além da indústria em geral, como a de alimentos industrializados. Tem ainda o INCC, que é a variação do custo na construção civil, apenas no setor de habitação.
Ou seja, o IGP-M registra todas as etapa da produção — por exemplo, da exploração do aço, que vai ser usado na fabricação de um carro que depois vai ser vendido numa loja. Já o IPCA, usado como inflação oficial, é calculado pelo IBGE e leva em conta apenas os preços do comércio e dos serviços, os preços que o consumidor final paga quando faz uma compra.
O economista André Braz explica que, em 2020, a combinação dólar nas alturas e preços das commodities puxaram o IGP-M para cima, mas nem sempre isso acontece. “Não é uma verdade absoluta que eles fiquem o tempo todo um muito distante do outro. Mas, no momento, nós tivemos um distanciamento que não é comum de ser verificado na série histórica”, afirma.
“Para soja, por exemplo, que foi a commoditie que mais subiu, o aumento foi de 37,1%. O milho, 25,2%; o trigo, 4,8%. O real desvalorizou durante 2020, em termos acumulados, 28,5%”, destaca Plínio Nastari, diretor da Datagro Consultoria.
Plínio ressalta que, apesar desses aumentos chegarem ao consumidor de alguma forma, a boa notícia é que o agronegócio brasileiro continuou forte: “O Brasil manteve toda a cadeia de produção, abastecendo não só o mercado doméstico, mas 1,6 bilhão de pessoas no mundo inteiro”.