O Campeonato Brasileiro de Futebol está apenas saindo da terceira rodada e já mostrou o quanto é complexo voltar às competições, em moldes convencionais, em plena pandemia do novo coronavírus. Casos positivos e com jogadores indo a campo, partida cancelada já na estreia, mudanças dos protocolos de segurança e até ameaça de paralisação. No Brasil, diferentemente do futebol, as modalidades olímpicas não querem se associar à Covid-19 e estão adiando ao máximo o início de suas principais competições, apostando em uma melhora do quadro sanitário nos últimos meses do ano.
“Não queremos ser os pioneiros nos problemas com a Covid-19”, diz o médico Diego Gadelha, diretor-presidente da Unifacisa, de Campina Grande, na Paraíba, sócia da Liga Nacional de Basquete (LNB).
Segundo ele, a previsão para a retomada do Campeonato Brasileiro de Basquete será em meados de novembro, sem data confirmada. Ainda não se sabe a quantidade de times e de rodadas.
Ele explica que um protocolo com cuidados sanitários será finalizado em setembro e irá se concentrar na competição e nos deslocamentos. Haverá ainda indicações de como deverá ser a retomada dos treinos, com orientações para atividades individualizadas. A Uniacisa, por exemplo só volta à quadra em outubro.
“Com público então, a Liga só retorna quando tiver vacina”, acrescenta Sérgio Domenici, CEO da LNB, que lembra que a competição está sujeita a legislação de vários Estados. “Diferentemente do futebol, não há pressão por parte dos patrocinadores para o retorno. Não querem ter a imagem associada a um problema de saúde como esse. O que há é um anseio da própria sociedade ao ‘novo normal‘. Há todo um ecossistema que sobrevive da competição”.
E no futebol, quem sobrevive da modalidade faz parte de uma rede que movimenta bilhões de reais. Um estudo da EY sobre os impactos da epidemia no futebol apontou que os 20 principais clubes devem perder de R$ 1,34 bilhão a R$ 1,92 bilhão com a paralisação do calendário até julho. O dado, segundo a empresa, era otimista e baseado em balanços financeiros das entidades esportivas.
“Esse retorno do futebol é precipitado, mesmo se fosse só a Série A. Vai ser mais caótico ainda. Não existe protocolo seguro para este tipo de competição. É nonsense”, opina Guiherme Werneck, professor do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da UERJ e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ. “O melhor seria admitir que não dá. É muito complexo mas como tem muito dinheiro envolvido…”
A retomada do esporte olímpico vai além das questões financeiras. Muitos locais de treinamento ainda estão fechados por causa dos planos de contingenciamento de suas cidades. Por isso, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) está levando, aos poucos, atletas para treinamento na Europa. Até o final do ano serão cerca de 200.
As pistas de atletismo, por exemplo, estão reabrindo agora, caso do Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo, em Bragança Paulista, sede da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), que já abriu e fechou duas vezes.
Clubes como o Pinheiros, na capital paulista, e o Flamengo, no Rio, dois importantes polos de desenvolvimento e treinamento olímpico, estão retomando suas atividades de forma gradual, desde o mês passado. No Pinheiros apenas nesta semana a natação foi liberada. Antes, apenas os esportes outdoor tinham autorização para a prática com uma série de regras e restrições.
No Flamengo, numa primeira fase, somente o remo, polo aquático, natação, nado artístico e ginástica retornaram, com horários reduzidos em grupos pequenos. O basquete volta à quadra nesta segunda-feira e o vôlei treina desde o mês passado na areia e na Escola de Educação Física do Exército.
A Superliga de vôlei, assim como o NBB, não tem data para retornar mas pode ser novembro. Já o Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, por ser outdoor, fixou sua volta para daqui um mês, em 17 de setembro. Nos EUA, o vôlei de praia já foi disputado em esquema semiaberto, com atletas confinados em hotel e as quadras construídas em um estacionamento.
“Não estamos livres de ter algum caso de contaminação. Não há 100% de segurança. Mas é um passo. O que estamos fazendo é tentar evitar ao máximo que isso aconteça”, disse Virgílio Pires, superintendente da modalidade.
Segundo ele, essa retomada tem inspiração na NBA que isolou atletas em um resort na Flórida. O vôlei vai concentrar seus atletas em CT próprio, em Saquarema (RJ), com disputa em datas diferentes para os naipes feminino e masculino, diminuindo o número de duplas, suas equipes, arbitragem e pessoal de apoio (a primeira parada entre 17 e 20 de setembro será do torneio feminino, e entre 24 a 27, do masculino). A segunda etapa será no mesmo local, em outubro, mas não há definição de sede para o restante do calendário. As informações são do jornal O Globo.