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Entenda por que o representante do Brasil é sempre o primeiro a discursar na Assembleia-Geral da ONU

Tradição do País na cúpula mundial vem de 1955. (Foto: Agência Brasil)

Não por acaso, sorteio ou cortesia, nessa terça-feira Michel Temer foi o primeiro presidente a falar na abertura da 73ª Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Desde 1955, o representante do Brasil é sempre o primeiro a discursar na cúpula, que acontece todo os meses de setembro em Nova York, nos Estados Unidos.

Embora a tradição não venha de nenhum norma oficial da ONU, um representante brasileiro sempre faz o discurso inicial. O Brasil é um dos 51 Estados fundadores da organização, em 1945. Na época, os territórios da maioria dos 193 países que hoje integram as Nações Unidas ainda estavam sob domínio colonial.

Além disso, Oswaldo Aranha (que foi ministro de Relações Exteriores de Getúlio Vargas, levando o Brasil à Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, e depois chefe da delegação brasileira na ONU) teve papel relevante nas negociações que levaram à criação da organização. Aranha presidiu a primeira sessão especial da Assembleia e a segunda sessão ordinária em 1947. Nesses dois encontros, foi aprovada a criação do Estado de Israel, com voto favorável do Brasil.

No livro “O sexto membro permanente: o Brasil e a criação da ONU”, o diplomata Eugênio Vargas Garcia relata que o governo de Franklin Roosevelt, que liderou os Estados Unidos na Segunda Guerra, havia prometido ao Brasil uma cadeira permanente no Conselho de Segurança na nova organização. Com a morte de Roosevelt em abril de 1945, um mês antes do fim do conflito, e sua substituição pelo vice, Harry Truman, a promessa foi deixada de lado.

A contenção dos soviéticos na Europa e no extremo oriente se tornariam as prioridades americanas no início da Guerra Fria. Não há até hoje um sexto membro permanente, privilégio de que usufruem cinco países: Estados Unidois, Rússia (no lugar da antiga URSS), França, Reino Unido e China, todos com armamento nuclear.

Até 1954, o Brasil abriu a Assembleia-Geral em três ocasiões. Somente a partir de 1955, em reconhecimento ao papel desempenhado por Aranha nos primórdios da ONU, passou a abrir os discursos da Assembleia Geral. Os Estados Unidos, o anfitrião, são o segundo país a falar. Para as demais nações, a ordem é baseada no nível de representação (chefe de Estado, ministro ou embaixador), preferência e outros critérios.

Nos dias anteriores à sessão da ONU que aprovou a partilha da Palestina, sob mandato britânico desde o fim do Império Otomano, em um Estado judaico e outro árabe, o ministro brasileiro também se mobilizou para garantir que a votação não fosse adiada. O Brasil apoiava a solução de dois Estados.

Gaúcho

Oswaldo Aranha nasceu em Alegrete no Rio Grande do Sul, em 15 de fevereiro de 1884. Formou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro no ano de 1916. Participou das articulações para depor o presidente Washington Luis e levar Getúlio Vargas ao poder na Revolução de 1930. Tornou-se ministro da Justiça e da Fazenda em 1931, foi embaixador em Washington entre 1933 e 1937 e ministro das Relações Exteriores de 1938 a 1944.

Em 1947, Aranha teve seu nome cogitado como candidato ao Nobel da Paz. Sua candidatura foi apoiada por 15 delegações de países da então União Pan-Americana, sendo defendida também por entidades sionistas americanas, segundo informações do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da Fundação Getulio Vargas. O prêmio, no entanto, foi dado aos Conselhos dos Quakers (Reino Unido e EUA).

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