O Brasil está ficando sozinho no grupo dos países emergentes que não tocaram nas reservas internacionais para reagir à piora das condições econômicas. Entre as grandes nações em desenvolvimento, só Brasil e Índia não queimaram reservas em 2015. Todos os demais grandes – África do Sul, Arábia Saudita, China, Indonésia, México, Rússia e Turquia – usaram parte do colchão de dólares durante os sete primeiros meses do ano. Ao todo, o grupo torrou 290,5 bilhões de dólares em sete meses para proteger moedas e as condições domésticas.
Levantamento feito pela Agência Estado com dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) e da Administração Estatal das Reservas Internacionais da China revela que, ao contrário do Brasil, a maioria dos demais países emergentes tem usado parte das reservas internacionais diante da deterioração do quadro econômico.
O Brasil, por sua vez, tem utilizado outros instrumentos para tentar, sem sucesso, conter a desvalorização do real. Em fóruns como o BIS (Banco de Compensações Internacionais, na sigla em inglês) e o grupo das 20 maiores economias do mundo, o G-20, brasileiros explicam o uso de alternativas, como o swap cambial, pelo fato de o País ter um mercado de derivativos mais desenvolvido que outros emergentes. Por isso, tem condições de oferecer proteção cambial sem tocar nas reservas. Recentemente, o Banco Central passou a oferecer empréstimo de dólares. A iniciativa, porém, também foi insuficiente para conter o derretimento do real.
Entre os grandes emergentes, a Arábia Saudita lidera o movimento de queima de reservas em 2015. Em sete meses, o volume total do exportador de petróleo caiu 8,7%. Árabes têm usado as reservas diante da queda do preço do barril do petróleo, o que reduz as receitas do país. Assim, o governo do rei Salman bin Abdulaziz al-Saud, que tomou posse no início do ano, tem direcionado parte das riquezas para continuar com o mesmo ritmo de gastos a despeito do petróleo barato.
Em seguida, aparecem os sul-africanos, que já queimaram 6,7% das reservas neste ano, os turcos, com 5,2%, e os chineses, que utilizaram 5%. Os três casos são semelhantes e mostram a reação das autoridades à piora das condições e uma maior desconfiança dos estrangeiros. Para os demais, as riquezas caíram 4,6% no ano, na Rússia, 3,9% na Indonésia e 1,2% no México. Entre as consequências do uso desses dólares, a mais visível é a desvalorização menos intensa das moedas nacionais. (AE)
