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Escândalo da carne lança dúvidas sobre oferta de ações da Friboi em Nova York

Operação Carne Fraca foi deflagrada na sexta-feira (Foto: Divulgação)

Executivos da JBS mal haviam acordado na sexta-feira (17) quando mensagens em seus celulares começaram a pulular. A gigante do setor de alimentos e maior produtora de carne bovina do mundo era um dos alvos da Operação Carne Fraca, deflagrada pela PF (Polícia Federal) no início daquela manhã.

Nas horas que se seguiram, a cúpula da empresa, na sede brasileira em São Paulo e na base americana no Colorado, ficaria dedicada a entender a extensão do problema – a operação mirou 32 companhias – e dividir-se para tentar tranquilizar clientes e investidores ao redor do mundo.

Os telefones da empresa tocaram incessantemente. Eram ligações de varejistas, grandes supermercados e redes de fast food, que compram carne ou industrializados da JBS. A empresa é dona de uma miríade de marcas, entre elas Friboi e Seara.

Ao contrário de outras operações que envolveram o grupo nos últimos meses (veja quadro acima), a divulgação da Carne Fraca lançou dúvidas, num primeiro momento, sobre a qualidade do produto da companhia, que vende ao mercado interno e exporta para mais de 150 países. A JBS, porém, não teve fábricas interditadas e não há menção no relatório da PF a irregularidades sanitárias da companhia, como a venda de produtos estragados.

Na noite de sexta, executivos da JBS, que teve receitas de R$ 170 bilhões em 2016, diziam haver incerteza sobre os prejuízos práticos da investigação para o negócio. O alto escalão da JBS compartilhava, porém, duas certezas: o dano à imagem da empresa era real e a turbulência não se encerraria naquele dia.

Oferta de ações 

Uma das principais dúvidas é como ficará o cronograma para abertura de capital da JBS Foods International, dona de todos os negócios da JBS fora do Brasil, na Bolsa de Nova York. A operação, que vem sendo gestada há meses, é a principal aposta da empresa para aumentar seu poder de fogo no mercado mundial e tem sido decisiva para sustentar o preço das ações da JBS no Brasil.

Segundo um executivo, a companhia preparava-se para, nesta semana, atualizar as informações do registro para a oferta de ações. O plano era deixar tudo pronto para que a operação pudesse ser feita de “meados para o final” de abril. Agora, os próximos passos dependerão de como investidores reagirão ao longo desta semana, diz um membro do alto escalão da companhia. Procurada, a empresa disse que não comentaria o processo.

As ações da JBS na Bolsa brasileira têm sofrido abalos. Desde julho passado, a empresa enfrenta os efeitos de investigações que miram a J&F, conglomerado da família Batista que comanda a JBS e também outras empresas como a Alpargatas (calçados), Flora (higiene e limpeza), Vigor (derivados do leite) e Eldorado (celulose).

As operações Sépsis, da Lava-Jato, Greenfield e Cui Bono apuram se a J&F pagou propina a políticos e funcionários públicos para obter, por exemplo, empréstimos da Caixa à empresa de celulose. A JBS não é alvo nesses casos, mas foi afetada. Em setembro, a Justiça determinou que Joesley Batista, presidente da J&F, e Wesley Batista, presidente da JBS, fossem afastados do cargos. Um acordo com as autoridades permitiu que retornassem.

A cada operação, o mercado reage. Na sexta, as ações da JBS foram as que mais caíram na Bovespa – tombo de 10,59%. A cotação ainda está acima da registrada em 30 de junho de 2016, dia anterior à primeira operação que mirou a J&F. De lá para cá, no entanto, enquanto as ações da JBS subiram 7,7%, o Ibovespa teve alta de 25,9%.

A ordem na JBS é intensificar nos próximas dias a comunicação com clientes e consumidores, “correr atrás do prejuízo”, como expressou um executivo. Mas o clima na companhia ainda é, em muitos casos, de indignação.

A avaliação inicial da cúpula é que a companhia não precisará reforçar sua estrutura de qualidade, que conta hoje com cerca de 2.000 funcionários, mas terá uma grande desafio de comunicação com os consumidores no mercado doméstico e no exterior. (Folhapress)

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