Ícone do site Jornal O Sul

Escritora Annie Ernaux faz história ao ganhar o Prêmio Nobel de Literatura

A escritora é a 17ª entre 119 homens homenageados desde a criação do prêmio, em 1901, e a primeira francesa. (Foto: Reprodução)

Annie Ernaux. Nem Murakami nem Ngugi Wa Thiong’o, eternos candidatos. Nem Salman Rushdie, que subiu nas apostas após o atentado sofrido em agosto. Foi Annie Ernaux que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Uma mulher – a 17ª entre 119 homens homenageados desde a criação do prêmio, em 1901, e a primeira francesa.

Annie Ernaux escreve sobre sua vida. E ao escrever sobre sua vida – sobre aborto que fez na juventude, o relacionamento com o um homem mais jovem ou a violência de seu pai –, com o olhar que lhe é característico, ela escreve sobre o seu tempo e lugar.

A autora francesa não atendeu a ligação da Academia Sueca no início da tarde da última quarta-feira (começo da manhã no Brasil). Tradicionalmente, os premiados ficam sabendo minutos antes do resto do mundo. Mais tarde, falou rapidamente com a imprensa na porta de sua casa, em Cergy, pequena cidade a 30 quilômetros de Paris. Ela estava chegando, e foi lacônica: “Estou muito feliz, muito orgulhosa. Voilà, isso é tudo”. Depois, mais calma, ela daria uma coletiva.

Além de uma renovação de sua fama internacional, novos contratos de tradução e de um lugar no “cânone” literário, Ernaux vai ganhar cerca de US$ 900 mil. A cerimônia de premiação será em Estocolmo, na Suécia, no dia 10 de dezembro.

Antes disso, a escritora de 82 anos deve vir ao Brasil. Menos de um mês atrás, ela foi anunciada como uma das principais convidadas da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a realizar-se entre 23 e 27 de novembro.

Annie Ernaux nasceu em 1940, em Lillebonne, na França, estudou na Universidade de Rouen e foi professora do Centre National d’Enseignement par Correspondance por mais de 30 anos. Autora de cerca de 20 livros, ela foi revelada em 1983, com O Lugar – referência para muitos autores que mesclam autoficção e sociologia em suas obras. Em 2017, ela ganhou o Prêmio Marguerite Yourcenar pelo conjunto da obra.

A obra de Annie Ernaux

Ao anunciar o nome de Annie Ernaux como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, a Academia Sueca justificou sua escolha pela “coragem e agudeza clínica com que ela descobre as raízes, os distanciamentos e restrições coletivas da memória pessoal”.

Anders Olsson, presidente do comitê do Nobel de Literatura, disse que Ernaux se refere a si como “uma etnóloga de si mesma” em vez de uma escritora de ficção. Seus livros, quase sempre breves, narram eventos de sua vida e das pessoas ao seu redor, seus encontros sexuais, o aborto, doenças e a morte de seus pais. Segundo Olsson, o trabalho de Ernaux é, muitas vezes, “intransigente e escrito em linguagem simples e direta”.

Ele também disse que ela alcançou algo “admirável e duradouro” e que com sua escrita ela busca oferecer uma visão muito objetiva dos eventos que está descrevendo, e não uma imagem “moldada por descrições floreadas ou emoções avassaladoras”.

À Associated Press, ele definiu Annie Ernaux como “uma escritora extremamente honesta que não tem medo de confrontar as duras verdades, as experiências realmente difíceis”.

Entre seus temas, abordados sempre a partir de sua experiência pessoal, estão relações familiares e sociais, violência e os direitos das mulheres. Ao contar sua história, ela explora e expõe a vida na França.

Durante o anúncio, o porta-voz do Nobel disse que não há nenhuma “mensagem” na escolha por Annie este ano, e que o critério é, e sempre foi, a qualidade literária. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sair da versão mobile