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Especialistas apontam quais medidas o novo ministro da Saúde deve adotar já para enfrentar a pandemia

Ministro Queiroga mencionou morte de adolescente, mas autoridades já descartaram relação entre o óbito e o imunizante. (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Sem uma ação nacional coordenada, a pandemia continuará a explodir no Brasil, destacam especialistas. E a coordenação das medidas de supressão, com lockdowns, é só uma das medidas que cientistas consideram fundamentais para que o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tenha êxito no combate do coronavírus.

A exemplo da coordenação dos lockdowns, as demais medidas se tornaram, frisa o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil, de extrema urgência, por conta da gravidade da pandemia.

É unanimidade entre cientistas que é preciso testar em massa, identificar e isolar infectados e rastrear seus contatos. Outra medida é o uso obrigatório e a distribuição gratuita de máscaras em todo o território nacional. Também é considerado prioridade o uso da rede de atenção primária, que na maioria dos municípios são os postos de saúde, para a detecção precoce da covid-19.

O primeiro ponto é coordenar a ação de supressão. “A rede de saúde se conecta e a de transmissão também. Um prefeito pode decretar lockdown, mas ele não adiantará muito se os municípios vizinhos não fizerem o mesmo. O mesmo vale para os estados. Como os interesses nem sempre convergem é preciso haver uma coordenação nacional, que estabeleça estratégias conjuntas e negocie com os entes federativos”, destaca Diego Xavier, pesquisador do Monitora Covid-19 e do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz).

Exemplos são as cidades que até podem ter leitos para sua população, mas entram em colapso se tiverem que atender casos de cidades vizinhas. Isso também acontece em nível estadual, acrescenta Xavier.

Ele menciona a região do Triângulo Mineiro que costuma buscar atendimento no norte de São Paulo. Este, quando não dispõe mais de leitos, impacta o restante do estado, inclusive a capital.

Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, chama a atenção para um fator fundamental sobre os lockdowns. “Lockdowns radicais só podem ser feitos se acompanhados de forte assistência social ou milhões de pessoas passarão fome ou sairão de casa com ou sem proibição. O auxílio emergencial está atrasado e é insuficiente”, diz Machado.

Medidas como aumentar o número de leitos de UTI são consideradas insuficientes pelos especialistas. Podem ajudar a evitar mortes, mas não impedem novos casos. Tampouco o número de leitos é um indicador eficiente. Ele é “a ponta do iceberg”, a constatação da desgraça.

Um dos virologistas mais experientes do Brasil, Amílcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que o Brasil precisa finalmente testar em massa. Só a testagem pode dizer se a transmissão e os casos estão aumentando antes que se tenha uma tragédia consolidada, como agora.

“O País jamais fez isso, não adianta testar doentes e mortos, é preciso pegar o vírus antes que a cadeia de transmissão se intensifique. E isso não precisa ser feito com exames de PCR. Os testes rápidos de antígenos são muito mais baratos e têm uma margem de confiabilidade adequada para detectar infecções ativas”, salienta Tanuri.

Tão necessária quanto o teste é a máscara. Machado diz que estudos estimam que se 80% da população usar, o Brasil poderá ter mais de 50% de redução de transmissão e casos. Para isso, observa, é necessária uma intensa campanha de informação e a distribuição gratuita de máscaras em áreas carentes, transporte público dentre outros.

Outro ponto destacado é a reorientação da atenção primária para detecção precoce da covid. “Isso é totalmente possível, o SUS atende 70% da população, mas não houve foco no rastreamento de casos a partir do momento em que as clínicas de atenção primária são procuradas por famílias”, diz Machado.

Na semana passada, o Ceará recomendou aos municípios que a rede primária passe a funcionar 24 horas com foco no atendimento inicial e na detecção da covid-19. “Mas é uma iniciativa isolada, não é nacional. Essas medidas precisam ser do País”, acrescenta ele.

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