Uma carta aberta assinada por mais de 30 cientistas, pesquisadores e economistas defende a adoção de um conjunto de medidas com recomendações para conter o avanço da covid-19 no Brasil.
O texto foi divulgado nesta quinta-feira (1º) e foi endereçado ao presidente Jair Bolsonaro, aos governadores e aos prefeitos. Os especialistas afirmam que três semanas de lockdown em abril poderiam:
— Poupar 22 mil vidas;
— Reduzir a média móvel de mortos pela metade;
— Evitar a marca de 5 mil mortos em um único dia;
— Proporcionar tempo para a vacinação de quase todos os idosos acima de 60 anos;
— Dificultar o surgimento de novas variantes.
Na área econômica, os pesquisadores defendem a concessão de parcela única de auxílio emergencial para cerca de 67 milhões de indivíduos em situação de vulnerabilidade, no valor de uma cesta básica, e de 3,3 milhões de micro e pequenas empresas, no valor de R$ 1 mil.
A proposta é fundamentada em estudos desenvolvidos pela Impulso Gov, organização brasileira de saúde pública, que apontam que o avanço da vacinação no país terá impactos positivos a partir do mês de maio. A carta é ainda parte da campanha #abrilpelavida, que coleta assinaturas de apoio ao movimento.
Dentre os que assinam a carta estão André Lara Resende, ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da FGV, Pedro Hallal, epidemiologista e Ana Maria Malik, membro do conselho da Associação Latina para Análise dos Sistemas de Saúde.
Veja abaixo trechos do texto:
“Estudos desenvolvidos pela Impulso Gov, organização brasileira de saúde pública, suprapartidária e sem fins lucrativos, apontam que o avanço da vacinação no país terá impactos positivos a partir do mês de maio, podendo reduzir à metade a média móvel de óbitos no país e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde. Tal cenário se justifica pelas seguintes evidências:
— Todas as vacinas testadas até agora mostraram alto potencial para prevenir hospitalização e morte.
— Mais de 70% dos óbitos registrados no Brasil até aqui foram de pessoas acima de 60 anos.
— O atual ritmo de produção nacional indica que teremos doses para vacinar quase todos os idosos (+60 anos) até o final de abril.
Todavia, para que esse cenário se torne realidade, é preciso reduzir a circulação do vírus de forma significativa e imediata. Caso contrário, podemos atingir a marca de 5 mil mortes diárias, conforme previsões de pesquisadores da Fiocruz; e podemos não ter leitos disponíveis, nem para pacientes com Covid-19 nem para aqueles com outras patologias, nas próximas semanas — cenário que infelizmente já é realidade em parte do país.
Nesse sentido, é fundamental que medidas de lockdown sejam adotadas, de forma coordenada pela União, Estados e Municípios brasileiros, pelas próximas 3 semanas com vistas a reduzir a circulação de pessoas e, assim, salvar vidas.
Estudos internacionais comprovam a eficácia da medida em 41 países, com efeito especialmente forte da redução de quaisquer aglomerações de mais de 10 pessoas; e recentemente observou-se a eficácia da medida também no Brasil. Após um mês de medidas restritivas, incluindo 10 dias de lockdown rígido como poucas vezes se viu no país, a cidade de Araraquara (SP) registrou, em 26 de março, o primeiro dia sem nenhuma morte causada por COVID-19, além de redução significativa no número de casos e da positividade dos testes.
2. Propostas
Apresentamos abaixo duas medidas emergenciais, parte da estratégia “Abril pela Vida”, com vistas a reverter o cenário atual de calamidade no país e salvar vidas.
Cientes de que as medidas de lockdown podem expor indivíduos em situação de vulnerabilidade ao risco econômico e reduzir a sua adesão às medidas, propomos soluções econômicas emergenciais que podem ser adotadas pelos três níveis de governo, com vistas a reduzir os impactos negativos que a menor circulação de pessoas pode ter sobre populações vulneráveis e, igualmente, sobre as economias locais.
3. Resultados esperados
A adoção da estratégia “Abril pela Vida” permitirá aos Governos e Municípios observar os seguintes resultados:
1. Reduzir a média móvel de mortos pela metade, o que pode significar pelo menos 22 mil vidas salvas;
2. Dispor de leitos para tratamento de COVID-19 e de outras patologias;
3. Reduzir a probabilidade de surgimento de novas variantes, capazes de superar a imunidade gerada pelas vacinas já desenvolvidas, com consequências globais desastrosas;
4. Neutralização de perdas econômicas, em razão do auxílio emergencial.
Sem a adoção das medidas supracitadas, teremos pelo menos 22 mil mortes adicionais, e podemos nos deparar com o surgimento de novas variantes, além de acentuarmos a crise de saúde pública e falta de leitos de UTI. A inação, além de causar impactos severos sobre o nosso sistema de saúde, exigirá medidas restritivas por mais tempo, e trará impactos econômicos ainda mais severos. A redução prolongada da atividade econômica por mais de quatro meses poderá anular completamente as possibilidades de crescimento econômico previstas para 2021.”