O golpista que firmou um acordo de R$ 5 milhões entre o São Paulo e a seguradora iSure no ano passado tem um amplo histórico de estelionatos, conforme revelado por reportagem investigativa da Rede Globo. A lista de vítimas é bastante diversificada.
Além de ter atuado como intermediário em negócios desse tipo, Lucas Jeronymo de Moraes enganava jovens com a promessa de atuação na Europa, profissionais veteranos com contratos fora da realidade, ex-mulheres com histórias de doença na família e até comerciantes, durante campanha para vereador de uma cidade paulista.
O “aplique” era o mesmo com todos os jovens. Através de jogadas registradas em vídeo, Lucas abordava a família do atleta em potencial, prometendo contratos na Europa.
Para isso, familiares deveriam arcar com custos de transporte, manutenção, documentação e outros gastos que chegavam a R$ 70 mil. Valor que Lucas embolsava. Fotos com jogadores de futebol, em ambientes luxuosos, somados às promessas, vendiam a suposta credibilidade de Lucas, segundo advogados.
Até quando lidava com jogadores profissionais experientes (alguns deles com passagem pelos maiores clubes do Brasil, como Flamengo, Inter e Cruzeiro, Lucas conseguia os convencer de que os sonhos eram realidade.
O meia Augusto Recife, 38 anos, foi convencido a vestir a camisa do Arapongas (PR) com a promessa de jogar a primeira divisão do Campeonato Estadual. No fim, o elenco contratado disputou apenas dois amistosos. Sem jogos oficiais, os jogadores nunca receberam o que foi prometido.
“Ele falava que trabalhava com um grupo de investidores, que o pessoal era de São Paulo, de São Caetano, uma empresa de ônibus. Falava que o pessoal tinha muita grana, que estava investindo pesado no clube. Mas era tudo mentira”. conta o atleta veterano.
O São Paulo Futebol Clube enviou nota à Rede Globo confirmando que Lucas se apresentou como subordinado direto da iSure, e disse que o contrato foi firmado por dirigentes da gestão anterior com os representantes legais da empresa.
Já a seguradora disse que foram atitudes do intermediador que inviabilizaram a parceria, e que confia numa conclusão justa para as partes lesadas.
Currículo de golpista
Em 2016, Lucas foi candidato a vereador em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Mesmo depois de fechar a conta da campanha, distribuiu ao menos 20 cheques que já não tinham validade. Foi condenado a ressarcir comerciantes, mas não fez isso até agora.
Dentre mulheres com quem ele teve relacionamentos, algumas procuraram a polícia para denunciá-lo. Uma delas relatou o passo a passo da manipulação que sofreu por dinheiro, chegando a ter R$ 50 mil de prejuízo.
“Ele alegava problemas familiares com pai, mãe. Sempre tem pai e mãe passando mal, precisando de dinheiro, precisando fazer exames”, conta uma de suas ex-companheiras.
Na maior parte dos quase 30 processos dos quais é alvo, Lucas não foi encontrado pela Justiça. Mas repórteres da Globo o localizaram, cobrando respostas sobre as acusações. Ele diz que não sabe dos pedidos de medidas protetivas contra ele, e disse que vê a situação com surpresa:
“Eu não falo sobre isso, sobre a empresa. Não falo sobre processo, principalmente porque tenho certeza que corre em segredo de Justiça. São inverdades. Cabe à Justiça colocar quem está certo, quem está errado. E com certeza não tenho nada a ver com essa questão de futebol. Não faço mais parte. Nunca fiz parte”.