Longa-metragem de estreia do diretor paulista Gregorio Graziosi, “Obra” pode ser vista como sofisticadíssimo tour em preto e branco por marcos arquitetônicos de São Paulo. Endereços menos conhecidos ou referências, como a Estação Pinacoteca, compõem um ensaio urbanístico de planos requintados, com impactantes enquadramentos do fotógrafo André Brandão. Ao fundo, uma rica trilha de sons e ruídos.
No entanto, apesar da sua altíssima densidade demográfica, a maior metrópole da América do Sul parece estranhamente esvaziada. O roteiro, assinado pelo diretor em parceria com Paulo Gregori, exibe uma estrutura frágil, com personagens, letárgicos, desvitalizados. Dois deles apenas esboçam uma maior intensidade: o arquiteto João (Irandhir Santos, distante do brilho e da energia de tantos filmes recentes) e seu mestre em construções (Júlio Andrade).
Às vésperas de ser pai, o arquiteto, envolvido com grande empreendimento, descobre corpos enterrados sob terreno da família, em uma situação bastante forçada. A necessidade de estabelecer um vínculo entre o passado e o presente soa artificial, e eventuais reações dos envolvidos parecem desproporcionais.
Como um belo projeto de arquitetura inacabado, o filme carece do essencial: a complementação do elemento humano. Talvez a intenção seja esta mesma, mas o resultado fica aquém do formalismo virtuoso da obra. (Susana Schild/AG)
Confira o trailer do filme: