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ESTREIA – “Nós Somos as Melhores!” mostra sintonia com a juventude

Filme conta a história de três meninas tentando montar uma banda. (Foto: Reprodução)

Lukas Moodysson retorna em “Nós Somos as Melhores!” (“Vi är bäst!”, no original), ao universo adolescente que destacou em “Amigas de Colégio” (1998). Como no filme anterior, o cineasta aborda esse turbulento rito de passagem por meio de personagens deslocadas, que caminham na direção da afirmação da identidade.

Bobo (Mira Barkhammar) e Klara (Mira Grosin) têm 13 anos e são amigas inseparáveis na Estocolmo de 1982. Evidenciam sintonia com o visual punk, externam a dose de rebeldia esperada para a idade e frisam o desejo, ainda que despretensioso, de formar uma banda.

A partir de dado instante, elas se deparam com Hedvig (Liv LeMoyne), adolescente que também destoa dos padrões estabelecidos e resiste — a exemplo da cena em que se mostra determinada a seguir se apresentando ao violão, apesar dos protestos da plateia. Essa tenacidade parece atrair Bobo e Klara, que tentam realizar mudanças em Hedvig, a começar pelo corte de cabelo.

De fato, Bobo e Klara não se enquadram, não cedem às pressões do sistema escolar. A câmera permanece próxima das personagens, realçando a autenticidade das meninas. Entretanto, toda a cumplicidade não impede que ambas entrem em conflito quando se interessam pelo mesmo garoto. Escorado numa história em quadrinhos de sua esposa, Coco Moodysson, o cineasta lança um olhar sem idealização, distante da glamourização, em relação aos jovens. Demonstra habilidade ao falar sob a perspectiva deles.

Depois da família compreensiva de “Amigas de Colégio”, da terrível de “Para Sempre Lilya” (2002) e da entrosada com a plataforma hippie de “Bem-vindos” (2000), os adultos ganham um retrato menos passional ou esfuziante em “Nós Somos as Melhores!”. Talvez a personagem com características mais sublinhadas seja a da mãe religiosa (Ann-Sofie Rase) de Hedvig, que não gosta da influência que Bobo e Klara exercem sobre a filha.

Em comparação com seus outros trabalhos, Moodysson não alcança aqui a excelência dos ótimos “Amigas de Colégio” e “Bem-vindos”. Na segunda metade da projeção, as peripécias de Bobo, Klara e Hedvig ficam menos curiosas. Essa falta de fôlego faz com que o filme, que não é particularmente longo (102 minutos), soe esticado.

Mas, desnível à parte, não há dúvida de que o cineasta se reconcilia com o bom percurso depois de uma fase nada inspirada.

Em “Nós Somos as Melhores!”, Moodysson conta com os desempenhos naturais de Barkhammar e Grosin, importantes para a conquista do resultado satisfatório. E, mais do que tudo, volta a se debruçar sobre adolescentes em busca da própria turma, de um lugar no mundo, assunto que inegavelmente conhece bem. Comprova que é um diretor singular, com potencial para retomar um posto especial no panorama cinematográfico contemporâneo. (Daniel Schenker/AG) 

Confira o trailer do filme:

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