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Estudo de estrelas fornece detalhes inéditos da evolução da Via Láctea

Galáxia de Sagitário teve papel essencial na formação da Via Láctea e do Sol. (Foto: Gabriel Pérez Díaz, SMM)

A galáxia anã de Sagitário teve papel crucial na evolução da Via Láctea, segundo um artigo publicado na última segunda-feira (25) na revista Nature Astronomy. O estudo também sugere que a galáxia foi essencial para a formação do Sol

A descoberta é resultado de uma pesquisa conduzida por astrônomos do Instituto de Astrofísica das Canárias, na Espanha, que utilizaram os dados da Missão Gaia, lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 2013. A equipe mediu luminosidade, posições, movimentos e a composição química de um grande número de estrelas individuais em nossa galáxia para tentar entender sua evolução.

Os astrônomos descobriram a luminosidade intrínseca de 24 milhões de estrelas em uma distância de até 6.500 anos-luz em torno do Sol. Comparando a luz e a cor delas com a de modelos anteriores, os cientistas obtiveram a história evolutiva mais detalhada da Via Láctea até agora.

Há cerca de 13 bilhões de anos, o surgimento de estrelas era violento e constante, mas essa taxa de formação foi diminuindo com o passar do tempo. “Podíamos imaginar que a Via Láctea não tenha formado estrelas a uma taxa constante ao longo de sua história, mas não esperávamos períodos de atividade tão bem definidos”, disse Tomás Ruiz Lara, líder do estudo, em comunicado.

Entretanto, como explicam os especialistas, houve alguns momentos durante a história da Via Láctea em que a taxa de formação de estrelas cresceu surpreendentemente, atingindo até quatro vezes seu valor normal. Um desses episódios ocorreu há cerca de 5 ou 6 bilhões de anos, seguido por outros há 2 bilhões de anos, 1 bilhão de anos e 100 milhões de anos.

Mas, por que esses episódios de formação de estrelas aconteceram? Para compreender a questão, primeiro precisamos saber que a Via Láctea, embora esteja em uma zona relativamente vazia do Universo, não está completamente isolada. Na nossa “vizinhança” encontra-se a galáxia de Andrômeda e dezenas de galáxias muito menores, as “anãs”.

Dentre essas galáxias, a de Sagitário foi e ainda é particularmente importante para a criação da Via Láctea. De acordo com a nova pesquisa, o sistema se aproximou da nossa galáxia diversas vezes — e em todas elas a taxa de formação de estrelas cresceu consideravelmente.

“Tudo indica que essas interações entre os dois sistemas foram capazes de estimular a formação de novas estrelas em nossa galáxia, afetando drasticamente sua evolução”, afirmou Carme Gallart, coautora da pesquisa. “Esses resultados questionam alguns dos modelos atuais de formação de estrelas nas galáxias e impõem restrições a futuros estudos teóricos.”

Segundo Tomás Ruiz Lara, o Sistema Solar se formou há cerca de 4,7 bilhões de anos a partir do colapso de uma grande nuvem de gás e poeira. “É possível que nosso Sol tenha sido uma das muitas estrelas formadas cerca de 5 bilhões de anos atrás, como consequência da interação entre nossa galáxia e a de Sagitário”, comentou o especialista. “Pode ser que [tenhamos descoberto] um dos principais eventos astronômicos que deram origem ao mundo como o conhecemos hoje.”

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