Um estudo publicado nesta semana por cientistas da França aponta que os vacinados contra covid têm nove vezes menos riscos de serem hospitalizados ou de morrer da doença, em comparação aos não vacinados. A eficácia permaneceu inalterada por até cinco meses após a segunda dose de imunizante, inclusive para casos de contágio pela variante delta.
Trata-se da maior pesquisa sobre coronavírus até agora no mundo, em termos de contingente populacional: foram analisados dados de 22 milhões de pessoas com idade a partir de 50 anos. O resultado foi publicado em dois relatórios da Epi-Phare, grupo científico que reúne membros da Agência Francesa do Medicamento (ANSM) e do Seguro Saúde Nacional francês (Cnam).
Os autores compararam dados de 11 milhões de pessoas vacinadas nessa faixa etária e de outras 11 milhões, nesse mesmo segmento, que não receberam sequer a primeira dose. A comparação foi feita entre 27 de dezembro (quando começou a campanha de vacinação no país europeu), e 20 de julho deste ano.
“As pessoas vacinadas têm nove vezes menos riscos de serem hospitalizadas ou de morrerem de Covid-19 que as não vacinadas”, resumiu o epidemiologista Mahmoud Zureik, diretor do Epi-Phare. “A redução do risco de hospitalização de 90% foi observada a partir do 14° dia após a segunda dose.”
As conclusões da pesquisa francesa confirmam as observações feitas em outros países como Israel, Reino Unido ou Estados Unidos. Mas o relatório francês é o “mais amplo já realizado no mundo”, afirma Zureik.
Atualmente, levantamentos realizados no Brasil também atestam a proteção proporcionada pelos imunizantes. Um estudo do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, concluiu que quase nove de cada dez pacientes hospitalizados com complicações da covid entre janeiro e setembro não haviam completado o esquema de vacinação contra a doença. No Hospital Ronaldo Gazolla, no bairro de Acari 95% dos 208 internados com Covid não haviam se vacinado.
Variante Delta
Para tentar constatar o impacto da variante Delta, hoje dominante na França, os pesquisadores utilizaram um procedimento específico. Eles levaram em conta somente o período a partir do qual a Delta começou a ser predominante, isto é, somente a partir de 20 de junho (um mês antes do fim do estudo).
Os resultados obtidos foram semelhantes aos períodos anteriores. A eficácia da vacina nas pessoas com mais de 75 anos foi de 84%, e na faixa etária entre 50 e 74 anos de 92%. Mas os autores ressaltam que um mês é pouco para “avaliar o impacto real da vacinação em relação à variante Delta” e que o “estudo deve continuar para integrar dados de agosto e setembro”.
O resultado vale para as vacinas Pfizer, Oxford e Moderna. O quarto imunizante administrado na França, o da Janssen, só foi autorizado no país europeu mais tarde, sem tempo para sua inclusão na pesquisa.
Por enquanto, os autores estimam que “nenhum indício aponta uma perda de imunização que corrobore a necessidade de uma terceira dose da vacina para toda a população”.
O estudo analisou dois grupos distintos. De um lado, foram comparados os dados de 7,2 milhões pessoas com mais de 75 anos, metade delas vacinadas e metade não. O segundo grupo era composto por 15,4 milhões de indivíduos na faixa etária de 50 a 74 anos, com a mesma porcentagem de vacinados e não vacinados.
A campanha de vacinação começou na França em 27 de dezembro de 2020 apenas para as pessoas do primeiro grupo. A vacinação dos integrantes do segundo grupo foi escalonada: a partir de 19 de fevereiro de 2021, para os maiores de 65 anos, e partir de 10 de maio, para os maiores de 50 anos. Os pesquisadores acompanharam a evolução dos dois grupos até 20 de julho e obtiveram resultados de eficácia semelhantes para as duas faixas etárias.
Para comparar os dados e taxas de hospitalização, os autores do relatório constituíram “casais”. Para cada vacinado em uma determinada data, foi associado um não vacinado da mesma idade, sexo e vivendo na mesma região.
O estudo avaliou apenas a eficácia das vacinas contra as formas graves de Covid-19. Ele não permite deduzir se os imunizantes impedem a contaminação ou a transmissão do coronavírus.
Reduzir as formas graves da doença é o “maior objetivo da saúde pública, já que uma epidemia sem forma grave deixa de ser epidemia”, salienta Zureik. A grande expectativa agora é saber se a confirmação da grande eficácia dos imunizantes anticovid na França conseguirá convencer os indivíduos antivacina, que ainda representam um quarto da população do país.