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Evo Morales anuncia sua candidatura ao quarto mandato consecutivo como presidente da Bolívia

No poder desde 2006, Morales ficará no poder até 2025 se for reeleito. (Foto: Jose Lirauze/ABI/Fotos Públicas)

O presidente boliviano, Evo Morales, inscreveu na quarta-feira sua candidatura nas próximas eleições presidenciais do país, numa tentativa de permanecer no cargo até 2025, no que seria o seu quarto mandato consecutivo. Seus opositores acusaram o presidente de tentar se perpetuar no poder, e anunciaram uma “dura briga eleitoral”.

Primeiro indígena a ocupar a Presidência boliviana, Morales, de 59 anos, tem mandato até 2020, mas espera conquistar um quarto mandato nas eleições — agendadas para outubro do ano que vem — como candidato do MAS (Movimento ao Socialismo).

“O MAS é um movimento político que não pode ser contido no combate àqueles que defendem o capitalismo e o imperialismo”, afirmou Morales, presidente desde 2006, diante de uma multidão que o acompanhou ao Tribunal Supremo Eleitoral. “Enquanto o povo se mantiver unido, continuará derrotando as políticas que tanto dano causaram à economia boliviana.”

Ex-líder cocaleiro, Morales — que em seu discurso defendeu a nacionalização da economia e rechaçou a privatização dos recursos naturais bolivianos — foi eleito pela primeira vez em 2006, e reeleito em 2010 e 2014.

Em 2009, promulgou uma Constituição que estabelecia o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos para os presidentes. Na tentativa de conquistar uma nova reeleição, convocou, em 2016, um referendo nacional. A reforma constitucional, no entanto, foi rechaçada pelo eleitorado boliviano.

Ainda assim, no final de 2017, o Tribunal Constitucional do país determinou que o limite de dois mandatos presidencial era “uma violação dos direitos humanos”, e autorizou uma nova candidatura de Morales à Presidência.

Um dos principais opositores de Morales, o empresário Samuel Doria Medina, anunciou que não concorrerá à Presidência, para ajudar candidatos opositores com mais chances de derrotar Morales. Segundo as pesquisas, o ex-presidente Carlos Mesa surge como o nome mais forte da oposição boliviana para as eleições.

Bolsonaro e a Bolívia de Morales

Governada sob visão diametralmente oposta à do presidente eleito brasileiro, Jair Bolsonaro, a vizinha Bolívia se prepara “com cautela” para uma “nova dinâmica” nas relações bilaterais e na negociação do gás, principal item da pauta comercial entre os dois países.

A avaliação é de analistas e pessoas próximas ao governo de Evo Morales, presidente há 12 anos e único remanescente do grupo de líderes de esquerda eleitos no continente sul-americano no início do novo milênio – Hugo Chávez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, José ‘Pepe’ Mujica, do Uruguai, e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil.

“Há um presidente legalmente eleito e, apesar das diferenças ideológicas, devemos nos interessar pela América do Sul”, escreveu Morales no Twitter após a vitória de Bolsonaro.

Essas diferenças ficam claras não só nas redes sociais como também nos discursos em que Morales costuma homenagear personagens da política latino-americana como o ex-guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara; o ex-presidente chileno Salvador Allende, o socialista atingido pelo golpe militar de Augusto Pinochet, em 1973; e Lula que, nas suas palavras, é “vítima de perseguição judicial”.

A Bolívia tem cerca de 11 milhões de habitantes e, embora seja um dos países mais pobres da América do Sul, é um dos que mais crescem no continente.

De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia boliviana crescerá 4,3% em 2018, muito superior ao índice de crescimento de 1,4% previsto para o Brasil, da queda de 2,6% estimada para a Argentina ou da brutal recessão histórica de 18% na Venezuela.

O crescimento boliviano não apenas deverá ser o segundo maior da região neste ano, segundo o FMI, (praticamente equiparado ao Paraguai, com previsão de 4,4%) como também vem se mostrando constante ao longo das últimas duas décadas, apesar de uma desaceleração em relação ao pico e tem sido feito com melhoria na distribuição de renda.

Segundo observadores, uma das explicações para os destinos díspares da Venezuela e da Bolívia, apesar das políticas socialistas adotadas nos dois países e da dependência da exportação de uma commodity, é o controle de gastos. Na Bolívia, o governo adotou um grau maior de prudência e não gastou além da conta nos tempos de bonança, como fez Hugo Chávez.

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